jornaleconomico.ptPedro Neves - 30 set. 00:16

O preço da guerra

O preço da guerra

“Pagando o preço da guerra” é o título do mais recente relatório da OCDE e transmite muito bem aquilo que nos está a acontecer, em Portugal como no resto da Europa.

Pagamento esse cujas prestações não têm para já um fim à vista.

Há poucos dias, o Deutsche Bank atualizou as suas previsões e o cenário é agora bastante mais sombrio para o banco do que há apenas um mês e meio. Agora, os analistas advertem que a recessão – porque o termo já se instalou para ficar – chegará a todos os pontos da zona euro e se prolongará até ao final de 2023. “Prevemos agora uma recessão mais longa e mais profunda do que em julho, com o PIB real da zona euro a cair perto de 3% no total entre o segundo trimestre de 2022 e o segundo trimestre de 2023. Esta queda será 50% maior do que a observada durante a crise do euro e cerca de metade da registada durante a Grande Recessão”.

Ainda segundo os analistas do DB, “a Alemanha e a Itália estão entre os países mais afetados, enquanto Portugal, Espanha ou França resistirão melhor à crise” devido à nossa menor dependência energética da Rússia. “A ‘exceção ibérica’ concedida a Espanha e a Portugal na primavera deste ano para aliviar a pressão sobre os preços da eletricidade a nível doméstico é um reflexo dessa realidade”, assinalam. O que, sendo um fator a nosso favor, não invalida que estejamos a caminhar para uma situação com repercussões muito significativas ao nível das empresas e, como tal, nas famílias.

Num discurso que proferiu esta semana no âmbito do Reinventing Bretton Woods Committee, Mário Centeno assinalou estar “moderadamente otimista”. Na verdade, é muito complicado partilhar esse otimismo, mesmo que moderado, transmitido pelo governador do Banco de Portugal, na mesma semana em que Christine Lagarde, em declarações à Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu citadas pela Agência Lusa, antecipou que “a guerra de agressão injustificada da Rússia contra a Ucrânia continua a lançar uma sombra sobre a Europa” tendo mesmo salientado que “as perspetivas são cada vez mais sombrias” e avisado que “é expectável que a situação piore antes de melhorar”. A presidente do Banco Central Europeu parece pois acreditar num cenário bem mais sombrio do que o nosso responsável pelo Banco de Portugal.

Decisivo para já, como avisa a OCDE no relatório referido no início, é que esta continuação da guerra constitui “uma ameaça à segurança alimentar global, particularmente se combinada com mais eventos climáticos extremos resultantes das alterações climáticas. A cooperação internacional é necessária para manter os mercados agrícolas abertos, responder a necessidades de emergência e fortalecer a oferta”.

Em suma, se para o otimista Centeno o futuro é um copo meio cheio e para a mais pessimista Lagarde um copo meio vazio, a verdade é que o pior que pode acontecer é o copo partir-se. Esperemos que tal não aconteça mas preparemo-nos para um duro embate que ainda virá, complicar o já em si periclitante momento presente.

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