MAFALDA ANJOS - 23 set. 18:22
Visão | "Não seria de estranhar ver António Costa Silva sair na próxima remodelação"
Visão | "Não seria de estranhar ver António Costa Silva sair na próxima remodelação"
Raspanentes, desalinhamentos e ameaças para levar a sério estiveram em análise no Olho Vivo desta semana
Nova semana, novo caso que mostra um desentendimento entre ministros e visões distintas para o país. “António Costa remodelou a casa, a rentrée começou, mas a casa, que é como quem diz, o Governo, insiste em desarrumar-se”, enquadra Mafalda Anjos. Desta vez foi o ministro da Economia, Antonio Costa Silva, a dizer que pode vir a aí uma descida transversal do IRC, logo abafado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, que esclareceu prontamente que nada estava decidido e que esse não era tema para ser discutido na praça pública. “Um raspanete em forma de eufemismo”, diz a diretora da VISÃO, que refere que “está a tornar-se o novo normal ver ministros a dizerem coisas e PM e Medina e dizerem o seu contrário”.
“Ao defender uma baixa transversal do IRC (sendo depois desautorizado) Costa Silva revela que há duas visões diferentes dentro do Conselho de Ministros. E isto em torno do documento que define as políticas públicas do Governo, o Orçamento de Estado! É uma situação grave, que revela descoordenação política ao mais alto nível”, entende Filipe Luís. “Esta é a segunda vez que é desautorizado e fica muito fragilizado, fazendo lembrar o caso do ministro Pedro Nuno Santos depois do incidente sobre o despacho do novo aeroporto: o que disser, a partir de agora, é ou não é para levar a sério?”, questiona o editor-executivo da VISÃO.
“Do ponto de vista do ministro da Economia, faz sentido falar de uma descida transversal do IRC, o problema é que as questões fiscais não são económicas, são políticas – implicam opções e as de António Costa são claras: contas certas e fazer um aumento dos rendimentos. Há aqui falta de coordenação política, mais do que de comunicação”, destaca Mafalda Anjos. “António Costa Silva foi ‘enganado’ porque tinha a expectativa de ficar com os fundos europeus. Não ficou, e perceber que a sua margem de manobra é, afinal, pequena. É um homem livre, não tem experiência política nem paciência para taticismos políticos, e responde com honestidade. Já se falou dele como possível remodelável, e que terá pedido para ir embora. E acho que não seria de estranhar ver António Costa Silva sair numa próxima remodelação. O que seria uma pena porque este tio de cabeças, com mundivisão, fazem falta num governo. não necessariamente na pasta da Economia”, conclui.
Esta semana, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a pedir que sejam apresentados os cenários macroeconómcios subjacentes aos planos de apoio apresentados. “Marcelo ficou escaldado com a reação inicial de regozijo que teve em relação ao pacote do Governo de apoio às famílias, não antecipando as críticas que se lhe seguiram, e por isso procura, agora, ser mais cauteloso e distanciado. Daí estar a exigir ao Governo que apresente as previsões macroeconómicas para o próximo ano, mesmo num tempo em que, como sabemos, se mudam as previsões todos os dias”, disse Rui Tavares Guedes, diretor-executivo da Visão. “Este episódio está relacionado com uma constante habitual na relação entre o Presidente e o primeiro-ministro: os momentos de atrito vêm, quase sempre, quando Marcelo desconfia do chamado otimismo irritante de António Costa”, acrescentou.
Filipe Luís destaca outro ponto. “Marcelo detetou uma tendência do Governo para dar uma resposta lenta a problemas urgentes, como no caso dos pacotes contra a inflação. Vai daí, exige conhecer antecipadamente os cenários macroeconómicos do Governo para saber o que Costa pretende fazer para enfrentar o difícil ano de 2023. Por isso é que está com tanta pressa, a pressionar o Governo para que os apresente…”
Outro tema em análise foi a guerra na Ucrânia. “Putin convocou 300 mil reservistas, fez ameaças de utilização d armas nucleares e ordenou referendos nas quatro regiões da Ucrânia ocupadas. Plebiscitos que começaram hoje e onde as hipóteses serão o sim, ou o sim à força, claro está”, diz Mafalda Anjos.
Em relação à ameaça nuclear proferida pelo líder russo, Rui Tavares Guedes considerou que a mesma não deve ser desvalorizada. “Há um ano também todos pensávamos que Putin estava a fazer bluff quando começou a concentrar tropas junto da fronteira da Ucrânia, e depois vimos o que aconteceu”, lembrou. “Agora, ele volta a fazer o papel do acossado e, como sempre, a dar um passo em frente. E dele já podemos esperar tudo. A grande dúvida é agora ainda mais dramática: o que fará ele no caso de se sentir encurralado? Entrará num bunker e dará um tiro na cabeça, como fez Hitler, ou entrará na mesma no bunker, mas para por o dedo no botão para disparar armas nucleares?”
“Só se ameaça com armas nucleares quando as forças convencionais não conseguem resolver o problema. É, portanto, uma declara
ção de derrota de Putin. Mas o pior é se ele, cada vez mais isolado, pensar que não tem nada a perder e que antes de ser derrotado ou afastado vai levar uns tantos com ele… Esse é o cenário mais aterrador. Pode ser que entre as altas patentes russas, se esse momento chegar, haja quem lhe ponha travão”, afirmou Filipe Luís.
Outros temas em destaque no Olho Vivo desta semana foram a escalada da extrema-direita na Europa, em antecição das eleições italianas deste domingo, a terceira eleição falhada do Chega para a vice-presidência da AR, com o apoio do PSD e o eurobarómetro da atividade física.
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