observador.ptobservador.pt - 18 ago. 21:34

As mordomas voltaram às ruas de Viana do Castelo carregadas de "emoção" e "chieira"

As mordomas voltaram às ruas de Viana do Castelo carregadas de "emoção" e "chieira"

Mais de 700 mordomas voltaram a desfilar, durante cerca de duas horas, pelas ruas de Viana do Castelo. As participantes honram a festividade por "orgulho pela cidade e pelas suas tradições".

As mais de 700 mordomas que voltaram esta quinta-feira a desfilar pelas ruas de Viana do Castelo não carregavam apenas o traje e ouro que lhes dá “tanta chieira,” mas “muita emoção” por sentirem o calor da multidão.

As palmas do público enchem-nos muito o coração. Ver as pessoas contentes com o regresso da romaria, depois de dois anos de paragem por causa da Covid-19. Se não fosse a pandemia já tinha me tinha estreado no desfile da mordomia”, contou à agência Lusa Inês Marques.

A jovem de 17 anos estreou-se este ano no desfile da mordomia, que durante cerca de duas horas percorreu as principais ruas da cidade, por “orgulho pela cidade e pelas suas tradições”.

Sem o apoio da mãe que este ano, pela primeira vez, interrompeu 30 anos consecutivos de participação num dos números mais emblemáticos da Romaria, confessou algum nervosismo pela “responsabilidade” de ser mordoma.

“As palmas do público ajudam a acalmar”, atirou a jovem.

O desfile partiu dos jardins do antigo Governo Civil, cerca das 16h00, e terminou, mais de duas horas depois, na cúria diocesana, ao som do poema “Havemos de ir a Viana” de Pedro Homem de Mello (1904-1984), que a fadista Amália Rodrigues (1920-1999) celebrizou a partir de 1969 e que a cidade adotou como uma espécie de hino oficial.

O fado passou a ser símbolo das Festas d’Agonia e é cantado pelas pessoas, de forma natural e genuína, durante a romaria, a qualquer hora e em qualquer lugar.

Durante o desfile da mordomia, mais de 200 mil pessoas, segundo números da organização, admiravam os diferentes trajes das freguesias de Viana do Castelo, de varina envergados pelas mulheres da ribeira, os grupos de bombos, os gigantones e cabeçudos.

Das 709 mulheres inscritas para o desfile da Mordomia, mais uma centena face à edição de 2019, o último ano em que se realizou, além de Portugal, registam-se participações de França (22), do Luxemburgo (13), Andorra (11), Reino Unido (2), Espanha (1) e Suíça (1).

Habituada ao rebuliço de mais de 20 anos de participação naquele número, Rosalina Viana, não valoriza os 79 anos de idade.

“Enquanto as pernas me levarem e a cabeça me guiar desfilarei com um sorriso nos lábios por todos os meus antepassados”, afirmou.

É a minha cara e o meu corpo que desfilam, mas é a minha família, os meus antepassados, toda a história da cidade que transporto”, insistiu, orgulhosa do fato que enverga, uma cópia do da avó que, noutros tempos era usado quando a jovem era mordoma da festa da freguesia, mas que também servia para o casamento e para a sepultura”.

“É com muita honra, muita vaidade, muita chieira e orgulho que estou aqui a representar toda a minha família, especialmente os antepassados que era assim que trajavam”, contou.

Apaixonada pelo traje de Viana contou a importância da algibeira e do lenço de linho branco.

Naquela época a mulher não podia andar com as mãos livres, era uma ofensa, uma afronta. Já o lenço servia para enxugar as lágrimas quando o sermão do padre era mais emotivo e comovia as pessoas”, disse.

Natural de Ponte de Lima, mas a viver em Viana do Castelo há 53 anos, Rosalina Viana não escondeu o “desgosto” de este ano só estar acompanhada por duas sobrinhas e uma sobrinha neta”, quando em anos anteriores conseguiu trajar 12 sobrinhas.

Rosalina não está preocupada com continuidade da tradição porque tal como ela “meteu o bichinho” às sobrinhas, outras mulheres da sua geração fizeram o mesmo e “há muita mocidade que não vai deixar morrer a tradição“.

Lúcia Santos, natural de Gondomar, no Porto desfila há 18 anos na cidade que a acolheu, que sente como sua.

“Costumo dizer que há vianenses de sangue e de coração. Eu tornei-me uma vianense de coração. No meu caso, o lema da cidade “Quem gosta, vem, quem ama, fica” encaixa-se plenamente porque aqui sente-se uma atmosfera diferente”, contou a mordoma de 34 anos.

A assistente operacional explicou o desfile da mordomia é como “viver dentro de uma bolha”.

“Estamos todos a viver para o mesmo, o público está connosco, cantamos todos juntos “Havemos de ir a Viana”. É muito bom sentir essa harmonia e voltar depois de dois anos, é muita emoção à flor da pele. Mesmo quem não é de Viana sente-se dentro dessa bolha” referiu.

Sandra Barbosa, natural de Celorico de Basto, no distrito de Braga, casada com um vianense é responsável pela crescente participação da família no desfile da mordomia.

Sandra, de 42 anos, começou por desgarrar a mãe, depois duas irmãs, uma sobrinha e várias amigas. Para já são sete, mas garantiu que o número vai continuar a aumentar.

“Quem casa em Viana do Castelo volta sempre. É a minha quarta participação e todos os anos trago sempre mais pessoas. A minha filha tem 10 anos e já conta os anos para poder participar [14 anos é a idade mínima para as jovens participantes]. Já me avisou que dentro de quatro anos também quem desfilar”, contou.

A família, toda emigrada em França e, no Luxemburgo, marca férias a contar com os dias da Romaria d’Agonia, em especial, o dia do desfile da mordomia.

A matriarca da família, de 62 anos, desfilou pela terceira vez, com o traje que comprou, de Morgada rica.

Para mim o significado deste desfile é que tenho comigo as minhas três filhas e uma neta. É um bom momento para partilhar em família e, pelas amizades que vamos fazer”, observou.

Ao lado, a filha Manuela, confessa estar “nervosa”, afinal vai desfilar pela primeira vez, aos 45 anos, e sem nunca ter assistido ao vivo ao número, só pela televisão.

“Uma pessoa quer parecer bem. É muita emoção”, desabafou, procurando alento na sobrinha de 23 anos que cumpriu hoje a segunda participação,

Rita Pinto está habituada a estas andanças porque no Luxemburgo integra um rancho folclórico e ajuda a divulgar as tradições que se cumprem, ano após ano, na Romaria d’Agonia.

“Virei sempre que poder para seguir o exemplo dos mais velhos e ajudar a passar o testemunho”, disse.

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