Observador - 5 ago. 00:16
Pénis de senhora
Pénis de senhora
A divisão e a fragmentação que esta esquerda está a criar acabará por causar danos irreparáveis às mulheres, aos homossexuais, aos transgénero. Sobre o que fará à democracia não restam dúvidas.
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Estava a ler o Expresso Diário, ainda há pouco, quando vi a notícia – tenho dúvidas de que seja uma notícia, mas assim mesmo… «Demi Lovato voltou a usar os pronomes ela/dela: tenho-me sentido mais feminina outra vez», terá dito a cantora num podcast ao qual deu uma entrevista. Depois de, em 2021, se ter assumido como não binária e ter passado a usar os pronomes elu/delu, Demi Lovato, agora, não os substituiu, mas acrescentou os supra-citados ela/dela. E não sempre. Nem para sempre. Fluidamente, logo, sem carácter permanente.
A minha pergunta é: o que é, então, «sentir-se feminina»? �� sentir-se conforme à construção social beauvoiriana? Ou será, ainda que de forma intermitente, no caso de Lovato, identificar-se com o sexo com que nasceu? Ou será uma estética onde os constructos da feminilidade de séculos se condensam em estereótipos como o uso de maquilhagem e saltos altos? Ou terá a cantora passado a acreditar num cérebro feminino? Ou sentir-se-á obrigada à submissão, e por isso feminina, debaixo do peso das estruturas sociais do patriarcado? Não sei de que feminilidade fala Lovato. Nem sei o que é uma mulher, para Lovato, como para qualquer outra pessoa para quem ser mulher é definido pelo «conhecimento interno de ser mulher», num dado momento ou permanentemente.
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