visao.sapo.ptssantos - 24 jun. 10:46

Visão | Vamos todos de férias adoecer para Espanha, de carro

Visão | Vamos todos de férias adoecer para Espanha, de carro

Portugueses, neste verão, não saiam de casa, muito menos sonhem em ir para o estrangeiro comprando bilhete na TAP; façam um esforço para não ficarem doentes, nem ter acidentes. Já agora, façam turnos para ir a banhos, pois assim haverá mais espaço para jogar futebol ou raquetes no areal

Se o turismo em Portugal fosse uma moeda teria duas faces. Numa das faces veríamos o tempo de espera à chegada ao aeroporto de Lisboa, que é para lá do aceitável (que deveria ser de alguns minutos, os suficientes para cumprir formalidades), e noutra os atrasos ou suprimento de voos para quem quer entrar ou sair de Portugal escolhendo a companhia aérea nacional.

Sabendo que a moeda “Turismo” representa por si só um setor de atividade económica fundamental para a geração de riqueza e emprego em Portugal, que gerou 4.286,4 milhões de euros nos primeiros quatro meses do ano, a situação começa a ser muito preocupante.

Enquanto o ridículo do tempo de espera dá as boas-vindas ao turista adulto ou criança que chega dos quatro campos do mundo, com várias horas de voo no corpo, o SEF faz saber que o plano de contingência apresentado pelo MAI em maio está a ser aplicado gradualmente, e que em julho teremos a “paz dos anjos”.   

Julho está a chegar, mas há muito que deixei de acreditar nas previsões e decisões de quem nos governa. E deixei de acreditar ainda na legislatura anterior, quando, por exemplo, o Estado recuperou o controlo acionista da TAP e reverteu o processo de privatização, mas perdeu o controlo da empresa embora tenha assumido mais riscos do que os acionistas privados. Estratégias de uma geringonça com sede de poder e que não soube aceitar uma situação já resolvida. Sobre isto já muita tinta correu, mas parece que a “coisa” está cada vez pior. De cada vez que se viaja pela TAP há que ter fé e rezar para que se possa levantar voo a horas ou que o voo não seja cancelado.

Num país que se vende como o “mais sustentável do mundo”, que quer “tornar-se mais competitivo e aumentar a receita turística”, como disse recentemente a Secretária de Estado do Turismo, as duas caras da moeda “Turismo” fazem desvalorizar as 5 estrelas que tanto gostamos num hotel chamado Portugal.

Com a concorrência à espreita, e um País sem dimensão no agroalimentar e uma indústria ainda sem pujança, seria bom que o turismo não ficasse apenas a ver e a receber navios, mas pudesse receber de braços abertos quem chega pelo ar. Seria bom que os aviões com as cores de Portugal fossem pontuais com quem quer sair ou entrar no País através de uma das companhias aéreas mais seguras do mundo, a TAP.

E porque o verão é a época do ano em que tradicionalmente as pessoas ficam “deslocadas do seu habitat natural”, não posso terminar esta crónica sem agradecer à Senhora Diretora-geral da Saúde os conselhos para “o melhor mês para casar”. Ao recordar que a “pior coisa” que pode acontecer é “adoecer em férias” e em agosto, mês que também não é bom para ter acidentes ou doenças, a responsável expõe de uma forma quase que maternal as fragilidades do setor Saúde. Um setor onde deixou de haver planeamento, nomeadamente ao nível dos Recursos Humanos, onde, por questões ideológicas, se pôs termos a algo que funcionava de forma eficiente, falo das parcerias público-privadas.

Mas a Diretora-geral da Saúde foi mais longe. No seu rol de conselhos maternais abordou a importância da climatização dos espaços fechados, de modo a dar “conforto térmico” e mostrou, mais uma vez, que tem consciência do País real. Um país onde a maioria das casas de habitação não tem conforto térmico e onde a maior parte da população sufoca nos meses quentes e tilinta nos meses frios. Esqueceu apenas de referir a urgência de se retomar o “Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis” do Fundo Ambiental, mas de preferência através de um processo de execução menos complexo, menos extenso e acessível a todos os portugueses.

Ser português é um orgulho. Mas com este cenário, que é bem real, é caso para dizer: portugueses, neste verão, não saiam de casa, muito menos sonhem em ir para o estrangeiro comprando bilhete na TAP; façam um esforço para não ficarem doentes, nem ter acidentes. Já agora, façam turnos para ir a banhos, pois assim haverá mais espaço para jogar futebol ou raquetes no areal. Mas, no meio do caos, nunca esqueçam que somos um povo hospitaleiro, que sempre soube receber e que no passado deu mundos ao mundo!

Já agora, o melhor é irmos todos de férias para espanha, de carro, para deixarmos espaço aos estrangeiros, não vão eles adoecer por cá, e estejamos nós a atrapalhar.

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