apfigueiredo - 24 jun. 08:30
Visão | França em transformação
Visão | França em transformação
Na política europeia, estas legislativas têm impacto negativo e positivo
A segunda volta das legislativas em França arrumou o sistema político em três campos. O macroniano, com coligação alinhada com o Presidente reeleito. O radicalizado, com uma coligação à esquerda e um partido à direita. E o tradicionalista, com os socialistas divididos e em desaparecimento, e os conservadores a tentarem conter as perdas. Objetivamente, o saldo dos primeiros cinco anos de Macron Presidente e com maioria absoluta é este: crescimento dos extremos e quase implosão dos dois grandes partidos da V República.
Contudo, os efeitos imediatos da nova composição da Assembleia Nacional não são assim tão objetivos. Desde logo porque a coligação à esquerda não tem coesão sequer para formar um só grupo parlamentar. Esta fragmentação até agora assumida apenas expõe o pragmatismo de campanha contra Macron, não uma responsabilidade súbita inerente ao resultado obtido. É preciso mais do que uma antítese ao poder para se construir uma alternativa sólida. Neste campo radical, a vantagem é de Marine Le Pen, que, sem necessidade de coligações, tem agora o maior grupo parlamentar da oposição, superando as expectativas e rompendo o sistema eleitoral. A viragem do seu discurso para as questões sociais e económicas trouxe-lhe, depois do teste nas presidenciais, um estatuto mais normalizante na política francesa, o que até pode beneficiar Macron se quiser bipolarizar o sistema, como fez mais uma vez nas presidenciais. O resultado de Le Pen lembra o da AfD em 2017 na Alemanha, quando garantiu a maior bancada da oposição no Bundestag, após o SPD assinar novo acordo de coligação com Merkel. Porém, essa posição igualmente histórica no pós-Guerra acabou por não recompensar a extrema-direita alemã, que quatro anos depois perderia um milhão de votos e 11 deputados.