observador.pt - 23 jun. 11:31
Quem é que não tinha medo do recreio da escola?
Quem é que não tinha medo do recreio da escola?
A primeira longa-metragem da realizadora belga Laura Wandel é uma viagem à crueldade do mundo infantil, à forma como, entre casa e escola, se podem manifestar, ao mesmo tempo, fragilidade e força.
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São precisos poucos segundos para que o espectador fique siderado com o olhar de Maya Vanderbeque, a protagonista de “Recreio”, primeira longa-metragem da belga Laura Wandel, que causou um pequeno furor na edição de 2021 do Festival de Cannes. É uma história recorrente a do mediatismo de Cannes, de tal maneira que por vezes torna-se banal. Mas neste caso vale mesmo a pena prestar atenção. Porque “Recreio” é um retrato visceral em volta do mundo violento das crianças. Tem o bullying como cen��rio, mas vai para lá disso. E é esse “para lá” que faz a diferença.
“Recreio” sente-se bem real, intemporal. E para isso contribui muito o tal foco na violência. “Recreio” acontece num mundo contemporâneo e desvia as atenções de formas de bullying mais presentes hoje — por via da tecnologia — e concentra-se na sua presença física, seja pela agressividade, tortura, como também pelo peso das palavras, do gozo e das ideias feitas dos adultos que as crianças imitam para se fazerem valer. Frases do universo “o meu pai é melhor do que o teu”. Apesar de desviar as atenções, não quer dizer que a tecnologia não esteja presente. Está, mas ao fundo, é uma espécie de ruído, de conversa que se ouve fora de campo, porque a preocupação de Laura Wandel é a manifestação física, mostrar como o recreio, esse pequeno espelho de todas as nossas futuras interações sociais, é um local essencial de integração.
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