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A multidão que há em cada um de nós

A multidão que há em cada um de nós

A obra de José Saramago deu origem à mais recente exposição de Agostinho Santos, "Ver cegueira adentro", patente na Reitoria da Universidade do Porto.

Há 20 anos que o artista plástico Agostinho Santos tem vindo a abordar os romances de José Saramago na sua obra. Impressionado com o forte cariz de intervenção social que encontramos nos livros do Nobel da Literatura, tem transposto para as telas - mas também para muitos outros suportes, a começar pelas simples folhas de papel - a inquietação suscitada por personagens como Blimunda de Jesus, Tertuliano Máximo Afonso ou a Mulher do Médico, entre tantas outras.

Patente há um mês nas Galerias I e II da Casa Comum, no edifício da Reitoria da Universidade do Porto, "Ver cegueira adentro" é uma síntese desse contínuo fascínio saramaguiano, mas será ainda mais uma forma muito particular de releitura artística.

Como sustenta Valter Hugo Mãe, curador da exposição, no texto de introdução de "Ver cegueira adentro", esta "transformação dos livros em imagens" permite um curioso diálogo entre a literatura e as artes plásticas do qual saímos com uma perceção mais ampla sobre o que é ser-se humano.

Neste "protesto humanista" que atravessa a mostra, é sobretudo o "brutal exercício de cidadania" que se destaca.

Aos traços indomáveis do artista gaiense junta-se a lucidez do romancista para criar verdadeiros tratados sociais, de que resulta um forte apelo interior, tão necessário para a desejada transformação. Ou, pelo menos, insubmissão, sem a qual nenhuma mudança avança.

Povoadas de rostos, as obras de "Ver cegueira adentro" dão forma às angústias e anseios dos oprimidos, essa massa informe de injustiçados cujas reivindicações são continuamente ignoradas por quem deveria zelar pelo bem comum.

Mas o principal mérito talvez seja mesmo a forma como Agostinho Santos, através dessa plêiade de personagens, consegue transmitir um forte cunho de individualidade, como se cada um dos seres retratados carregasse dentro de si uma multidão sem fim.

Depois da visita guiada realizada no passado sábado, assegurada pelo próprio artista, haverá ainda mais duas datas disponíveis: a 18 de junho e a 2 de junho, último dia da exposição

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