jn.pt - 22 mai. 01:00
O preço incerto
O preço incerto
É a guerra na Europa, é o aumento dos casos de infeção por covid-19, é agora a varíola dos macacos... parece que a bonança está a tardar a chegar.
É que, mesmo que uma pessoa queira tirar a cabeça destas preocupações e acompanhar o Gonçalo Quinaz e o Nuno Homem de Sá, que não se entendem na casa do "Big Brother famosos", não tem dinheiro para o pacote de pipocas, porque grande parte do milho que consumimos vem da Ucrânia.
Mas temos de ver o lado positivo. A guerra faz com que os cereais aumentem de preço, o que faz com que comecemos a fritar a solha em óleo de motores a dois tempos. O "Guia Michelin" vai ficar doido com esta nouvelle cuisine portugaise. O corte de relações com a Rússia compromete o gás, o que faz com que para nos aquecermos tenhamos de adoptar 17 gatos abandonados para se deitarem em cima de nós. O preço da energia é elevado, o que faz com que reacendamos literalmente a chama das nossas relações com mais jantares à luz das velas. O combustível está tão caro, que vamos começar a andar mais a pé. Férias de verão? Vou fazer uma peregrinação à costa amalfitana, chefe. Volto em novembro.
O preço dos alimentos continua a subir e o valor do cabaz de produtos básicos para uma família custa agora 193€ por mês. Faz-me lembrar aquele jogo do alpinista do "Preço certo": sobe, sobe, sobe ao som do tirolês e no final catrapumba! Vamos ao charco. O próprio programa da RTP, que tanto anima aqueles autocarros de gentes trazida de várias parte do país, é cada vez mais perverso. Não porque o Fernando Mendes esteja com um bikini body melhor que o meu, mas porque hoje em dia perguntam "qual é o preço deste pacote de arroz Saludães? Ah, ninguém acertou. O preço certo era 87€" e toda a gente começa a chorar.
De repente, damos por nós no supermercado a pensar: levo meia dúzia de chicharros ou compro 23 pacotes de delícias do mar? Não sei que raio de goma é aquela e nos documentários do Discovery Chanel nunca vi um peixe cor-de-rosa daqueles sem barbatanas, mas como no rótulo diz que é do mar, está a valer. É que o atum em lata, aquele artigo que temos em casa para desenrascar uma refeição, também começa a ser considerado um artigo de luxo, por causa do aumento de 59% do óleo vegetal. Eu já comecei a investir em Bom Petisco. É que, comprar casa é cada vez mais um sonho e assim como assim deixo de herança aos meus filhos uma prateleira cheia de latinhas de peixe. Vão ser pouco mimados, vão. Lembram-se daquele anúncio dos relógios Patek Philipe cujo slogan era "Nunca somos verdadeiramente donos de um Patek Philippe. Apenas cuidamos dele para a próxima geração"? Hoje em dia, é mais "Nunca somos verdadeiramente donos de um Bom Petisco."
Para termos uma ideia, o preço dos alimentos essenciais subiu três vezes mais depressa num mês do que os salários nacionais durante um ano. Eu não sei se Academia Sueca me está a ler, mas se estiver, queria aproveitar para sugerir que o Prémio Nobel da Economia deste ano fosse dado aos portugueses. Gostava que, em outubro, no anúncio dos vencedores, fosse dita a frase "e depois de, em 2021, ter ganho o economista David Card pelas suas contribuições empíricas para a economia do trabalho, este ano o Nobel da Economia vai para a dona Arlete, de Carrazeda de Ansiães, pela sua inovadora estratégia económica de conseguir aproveitar todas as promoções semanais de hipermercados e ainda utilizar todos os cupões e cartões de desconto para conseguir cuidar do seu agregado familiar com 600€ por mês".
*Humorista