www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 20 mai. 15:13

O problema da liberdade

O problema da liberdade

Liberdade, vontade, capricho e birras. E por fim, a infelicidade. Os miúdos, ao contrário daquilo reclamam, não querem liberdade, eles querem manifestar-se, guerrilha, bater com o pé, esticar a corda.

"Todos vão", "só eu é que não tenho", "nunca posso fazer nada", "é só hoje"! Os miúdos, desde bebés, têm caprichos, vontades incontroláveis e desejos tal e qual os viciados em açúcar e em cigarros, que não resistem aos bolos e à nicotina. Nos filhos em geral as coisas pioram com idade, pois os desejos e as vontades tornam-se mais nocivas. Do "tirem-me da Maxicosi senão eu sufoco com este o choro estridente" até ao "emprestem-me o carro para descer a costa senão eu entro numa depressão transversal aos jovens da minha idade pós-covid", é um ápice, acreditem.

E nós, pais, parvos, vamos na conversa. Apavorados com a vida de pais porque não jantamos à mesa, só demos de mamar dois meses, trabalhamos mais do que devíamos, demos poucos irmãos aos filhos e não aguentamos vê-los verter uma lágrima - quanto mais lidar com uma ameaça de estado de tristeza a longo prazo -, cedemos em tudo. Já nos chega o preço da gasolina, os impostos, a guerra e as chatices no trabalho. Em casa queremos paz.

Por isso, o que eles querem, fazem e que não querem, não fazem. O que eles querem, comem e o que não querem, não comem. Em nome de quê? Da liberdade. São livres, os nossos meninos, dizemos às nossas consciências enquanto nos crescem em casa filhos caprichosos. E é um saco sem fundo aquilo que eles querem e aquilo que eles não querem. É como o dinheiro dos ricos, que nunca chega. E a felicidade deles, assim como seu bem-estar e o nosso, não é proporcional a esta suposta liberdade. Pelo contrário, apenas a frustração o é.

Tenho um filho que experimentou quase tantos desportos quanto os Olímpicos. Não gostou de nenhum em especial, o menino - o mais velho, claro -, até que aos 16 anos desistiu das experiências e do desporto. Agora, jovem adulto (como se diz), queixa-se porque "os pais nunca me obrigaram a ficar num desporto e cederam aos meus caprichos". Por um lado apetece bater-lhe, por outro, não, porque ele tem razão.

A verdade é que a liberdade que se dá aos filhos nunca pode ser espontânea. E chega a ser maldade deixá-los sozinhos nas suas escolhas tantas vezes e tão cedo. Eles contam com os pais, como os únicos adultos da sala, para os ajudarem a encontrar os caminhos e, até muito tarde, para fazerem as escolhas por eles. Para os guiarem, para lhes pegarem ao colo ou para lhes largarem a mão, conforme os casos.

Uma criança ou um jovem não escolhe livremente quando tem uma grande vontade de sair com os amigos na véspera de um exame. Nem uma criança é livre quando diz que não quer comer a sopa, ir para cama ou jogar Playstation. Estas vontades desequilibram a sua liberdade.

Liberdade é não estar condicionado a caprichos, a vícios, a medos e a inseguranças. É ter formação, informação, experiência e espírito crítico que nos permitam fazer escolhas livres. Educar em e para a liberdade é antes de tudo saber explicar o que ela é.

Jurista

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