jornaleconomico.ptFilipe Alves - 20 mai. 00:20

Esta não tem de ser mais uma década perdida

Esta não tem de ser mais uma década perdida

Será possível crescer de forma sustentada, no médio e longo prazo, sem uma profunda reforma do Estado, sobretudo em áreas como a Justiça e a Educação?

O endividamento do sector não financeiro (administrações públicas, empresas e particulares) português aumentou em mais de cinco mil milhões em março, face a fevereiro, para um total de 782,5 mil milhões de euros, segundo os dados divulgados esta semana pelo Banco de Portugal.

O endividamento do sector público (administração pública e empresas controladas pelo Estado) aumentou em 1,8 mil milhões de euros no mesmo mês, para um total de 350,6 mil milhões de euros. Por sua vez, o endividamento dos particulares e das empresas aumentou 3,9% e 5%, respetivamente, face ao mês homólogo de 2021.

É uma  quantidade gigantesca de dívida, que apenas conseguimos manter devido à política que tem sido seguida pelo BCE. Os juros estão a subir e, mais tarde ou mais cedo, a realidade vai bater-nos à porta, apesar do efeito da inflação sobre a dívida e da recuperação em curso da economia portuguesa, com a Comissão Europeia a prever um crescimento de 5,8% em 2022.

O Governo está consciente de que a era do dinheiro barato chegou ao fim e que urge retirar Portugal do pelotão dos endividados. Há cerca de um mês, no debate sobre o Programa de Estabilidade, o ministro das Finanças, Fernando Medina, afirmou que o objetivo do Governo é “retirar Portugal do grupo das economias com maior dívida pública na Europa”, prevendo que a dívida pública em percentagem do PIB baixe de 120,8% em 2022 para 101,9% em 2026.

“Só um crescimento sólido, duradouro e sustentável é pilar de elevados níveis de emprego, da melhoria dos rendimentos e garante do financiamento de um Estado social forte, moderno e eficaz”, disse Medina, na mesma ocasião, fazendo antecipar uma política de contas certas para manter o défice e a dívida sob controlo.

Porém, dizer que a dívida tem de ser reduzida é como defender a paz no mundo. Alguém será contra? O mesmo se passa em relação a Portugal ter um crescimento sustentado que inverta a tendência de empobrecimento relativo das últimas duas décadas. A grande questão é como o conseguir.

O Governo aposta, sobretudo, nas verbas do Plano de Recuperação e Resiliência e em alguns grandes investimentos que terão lugar ao longo da próxima década. O tempo dirá se tal será suficiente para transformar a economia portuguesa, tornando-a mais competitiva e reforçando a sua produtividade.

E será possível crescer de forma sustentada, no médio e longo prazo, sem que se faça uma profunda reforma da máquina do Estado, nomeadamente em áreas como a Educação e a Justiça? E não devia Portugal procurar ser mais competitivo do ponto de vista fiscal, para atrair mais investimento, ao invés de continuarmos a alimentar uma hidra que consome uma fatia cada vez maior da riqueza criada pelos portugueses?

P.S.: Na passada sexta-feira, 13 de maio, faleceu o jornalista e escritor Fernando Sobral, nosso colaborador. O Fernando era um grande profissional e, sobretudo, um ser humano extraordinário. Certeiro nas suas análises, extremamente culto, com um sentido de humor apurado e um coração generoso. Manteve-se humilde e, como todas as pessoas verdadeiramente inteligentes, não se levava demasiado a sério. Um camarada no verdadeiro sentido da palavra, a sua falta será muito sentida por todos nós e o Jornal Económico apresenta as mais sentidas condolências à sua família e aos seus muitos amigos.

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