dinheirovivo.pt - 14 mai. 10:05
Demagogia à volta dos lucros
Demagogia à volta dos lucros
Os resultados trimestrais das empresas cotadas no PSI indicam, em muitos casos, subidas significativas dos lucros, em linha com o que tem sido a recuperação da economia portuguesa depois dos constrangimentos provocados pela pandemia. Corticeira Amorim, EDP Renováveis, Galp, NOS, BCP, Jerónimo Martins, etc. registaram subidas consideráveis do EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) e valorizaram-se em bolsa.
Mas, para minha surpresa, o bom desempenho destas empresas foi motivo de crítica quer nas redes sociais quer mesmo nos media e no debate político. Pelos vistos, para muitos portugueses, alguns deles influentes na opinião pública, os lucros das grandes empresas são à partida motivo de suspeição e só trazem benefício aos respetivos acionistas. Há uma desconfiança profunda em relação à atuação e às motivações das grandes empresas, que muitas vezes é alimentada pelo próprio discurso político.
Convém, por isso, desmistificar a suposta ganância e malevolência das grandes empresas. É que, por um lado, existem em Portugal leis e instituições que garantem o bom funcionamento da economia de mercado e a defesa dos consumidores - basta pensar na Autoridade da Concorrência, na ASAE e nas entidades reguladoras independentes. Por outro lado, as grandes empresas não só geram dividendos para os seus acionistas como são também quem mais impostos paga e quem mais e melhores empregos cria, quem mais investe em I&D, inovação e sustentabilidade e quem mais apoia atividades de responsabilidade social e mecenato cultural.
Os resultados líquidos das cotadas do PSI atingiram, no ano passado, 3,5 mil milhões de euros, um aumento de 46% face a 2020. Ora, segundo a análise da BA&N Research Unit, o Estado vai receber 625 milhões de euros em impostos com os dividendos pagos pelas empresas do PSI em 2021 (360 milhões de euros de retenções em sede de IRC e os restantes 265 milhões de euros pela aplicação da taxa liberatória). Ou seja, o Estado fica com a maior fatia dos lucros. Portanto, o sucesso destas empresas favorece a sustentabilidade do nosso modelo social.
Bem sei que, em alguns setores, a dinâmica concorrencial ainda não é a desejável e são por vezes detetadas práticas de cartelização. Ainda assim, não há razão para diabolizar as grandes empresas. Pelo contrário, deve valorizar-se o seu papel no crescimento económico e no desenvolvimento social. Senão, nunca sairemos da cauda da Europa.
Presidente da ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários