apfigueiredo - 27 out. 18:00
Visão | Sei o que fizeste no Orçamento passado
Visão | Sei o que fizeste no Orçamento passado
O Orçamento passou ou chumbou porque os partidos fizeram contas. Dito assim, parece uma banalidade. Mas, após um exame mais profundo, é mesmo uma banalidade. Só que não é a banalidade que parece. Os partidos não fizeram contas à alocação de verbas no Orçamento, fizeram contas aos resultados eleitorais
Como creio que o leitor adivinha, não tenho outra alternativa que não seja escrever um daqueles textos que começam com a expressão “no momento em que escrevo”. São textos em que o cronista admite que tem muito menos informações sobre o tema em análise do que o público, mas não é isso que o vai impedir de dar a sua preciosa opinião, por mais desactualizada que possa estar. No momento em que escrevo, não se sabe ainda se o Orçamento do Estado será aprovado. O leitor já sabe, pelo que não tem interesse nenhum em ler o que pensa quem escreveu antes de se saber. Felizmente, como já tive ocasião de provar por várias vezes, os factos são totalmente irrelevantes para a formação da minha opinião. A realidade tem tentado, mas nunca me conseguiu travar. Seja qual for o desfecho da votação do Orçamento, o que eu penso é o seguinte: o Orçamento passou ou chumbou porque os partidos fizeram contas. Dito assim, parece uma banalidade. Mas, após um exame mais profundo, é mesmo uma banalidade. Só que não é a banalidade que parece. Os partidos não fizeram contas à alocação de verbas no Orçamento, fizeram contas aos resultados eleitorais. A razão pela qual o Orçamento passou ou chumbou foi essa: após complicados cálculos, os partidos compreenderam que teriam mais a ganhar ou a perder caso o Orçamento passasse ou chumbasse. Foi por isso que o Orçamento passou ou não passou. Penso que esta lógica é cristalina.
O leitor perguntará, e bem: e agora? O que se segue a esta aprovação ou chumbo? A resposta é: o costume. Haverá uma longa discussão para saber quem teve o mérito e o sentido de Estado de aprovar o Orçamento, ou quem foi irresponsável a ponto de deixar o País sem rumo. Por outro lado, teremos um debate interessante que permitirá apontar os culpados pela aprovação de um Orçamento iníquo, ou os heróis que, com firmeza e coerência, conseguiram chumbar um documento que iria lançar o País no abismo. Seja como for, temos sempre esta garantia tranquilizadora: mesmo quando não fazemos ideia do que vai acontecer, sabemos que Portugal continua a ser previsível. Já não é mau.
(Crónica publicada na VISÃO 1495 de 28 de outubro)
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.