publico@publico.pt - 26 out. 10:18
As frases feitas que assombram os pais, os filhos, os netos...
As frases feitas que assombram os pais, os filhos, os netos...
Cada um de nós vai crescendo ao seu ritmo, e é verdade que cada família é uma família, mas há frases universais e que ouvimos em loop durante toda a nossa infância e adolescência.
Querida Mãe,
Sei que, às vezes, esta história da parentalidade parece um assunto muito complexo, mas no fundo não é. Deixe-me explicar-lhe.
Como por exemplo:
- Não te sentes tão perto da televisão vais estragar os olhos.
- Parece que estou a falar com uma parede!
- Veste um casaquinho que está frio.
- Achas que o dinheiro cresce nas árvores?
- Foi um passarinho que me contou!
- Eu não perguntei quem foi, eu disse “apanha!”.
- Não me interessa o que é que os teus amigos podem ou não podem fazer.
- Alguém vai acabar a chorar!
- Quando tinha a tua idade andávamos sempre a brincar na rua.
- Não me interessa quem começou, eu disse para parar!
Quando engravidamos e projectamos os pais que vamos ser, é claro que juramos a pés juntos que não vamos repetir frases como:
- Não te sentes tão perto da televisão, vais estragar os olhos
- Parece que estou a falar com uma parede!
- Veste um casaquinho que está frio.
- Achas que o dinheiro cresce nas árvores?
- Foi um passarinho que me contou!
- Eu não perguntei quem foi, eu disse “apanha!”.
- Não me interessa o que é que os teus amigos podem ou não podem fazer.
- Alguém vai acabar a chorar!
- Quando tinha a tua idade andávamos sempre a brincar na rua!
- Não me interessa quem começou, eu disse para parar!
Nessa altura, uns juram que vão ser mais assertivos, outros que serão mais empáticos, adoptando o modo “mãe do Ruca” mas, inevitavelmente, os miúdos acabam por nos enfeitiçar e sem sabermos como, nem porque, ouvimos sair da nossa boca:
- Não te sentes tão perto da televisão vais estragar os olhos
- Parece que estou a falar com uma parede!
- Veste um casaquinho que está frio.
- Achas que o dinheiro cresce nas árvores?
- Foi um passarinho que me contou!
- Eu não perguntei quem foi, eu disse “apanha!”.
- Não me interessa o que é que os teus amigos podem ou não podem fazer.
- Alguém vai acabar a chorar!
- Quando tinha a tua idade andávamos sempre a brincar na rua!
- Não me interessa quem começou, eu disse para parar!
Estamos condenadas a este círculo vicioso? Suspeitando que sim, e já que me conformei a tornar-me como a mãe, aproveito para assinar com o seu nome.
Beijos
Isabel
Ana,
A tua previsão está 100% correcta: o loop continua. Limito-me a acrescentar as frases que os pais vão ouvir dos avós. Decora-as, porque é evidente que também tu as vais repetir quando chegares aqui.
- Ó Filha, comigo ele não faz estas birras.
- Tens a certeza de que o bebé não tem fome?
- A dar de mamar... Outra vez?
- Ah, ele vai adormecer ao colo?
- Lá estás tu com as tuas manias do açúcar... É só um chocolatinho!
- Ai filha, estás tão cansada e tão magrinha, tens mesmo de dormir.
- Explica lá isso outra vez, então ele passa a noite na vossa cama, é?
- Sabes que o filho da x já faz y?
- Não te zangues com ele, coitado.
- Não vais dizer nada? Olha que se crescer sem limites...
Podia lembrar-me de muitas mais, mas fico-me por aqui para não te ocupar espaço em demasia de memória, que te pode fazer falta para outras coisas.
E, claro, conformada a não me libertar do espírito da tua avó, assino-me dedicadamente,
Pamela
No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.