www.publico.ptpublico@publico.pt - 27 out. 00:05

A moral e a política

A moral e a política

Esta cimeira de Glasgow vai ser mais um momento de folclore mediático, em que interesses e contra-interesses se irão digladiar, e no final ganham sempre os mesmos.

 “Que estrondo a indústria causa no mundo. A máquina é fonte de estardalhaço”, G. Flaubert

“A vida é um conto, cheio de sons e fúrias, não significando nada”, Shakespeare

1. A Rainha de Inglaterra, sem pretender ser recebida por Biden, disse que não nos podíamos ficar pelo blá, blá, na cimeira de Glasgow.

Também não penso que tenha qualquer utilidade ser recebido por seja quem seja, o clima não vai ficar melhor, por nenhuma recepção.

Tudo já está, já foi dito, sobre o clima, a redução da biodiversidade, o imperativo de reduzir as emissões, todas, a exdruxulosidade do sistema mundial e a absoluta falta de autoridade das supostas entidades responsáveis por esse.

Montanhas de artigos, toneladas de livros, dezenas de horas de rádio e muitos, muitos programas de alienação televisiva (pois quê?), sem falar das indigentes redes sociais se entregarão a discorrer sobre a próxima cimeira do clima. Nestas últimas, a coberto do anonimato, inúmeros drolls (não seres), que a maioria dos comentários destas são criações algorítmicas sem existência real, continuarão a tentar espalhar mentiras, manipulações ou realidades virtuais, como aliás já o fazem há anos.

2. As verdadeiras discussões ou não são tidas ou são escamoteadas pela comunicação de massa, e mesmo a mais séria imprensa (escrita ou falada, que a vídeo é quase sempre lixo) se sujeita aos imperativos da publicidade ou dos publicistas, normalmente ligados a alguns sectores produtivos (sempre produtivos!) ou a segmentos políticos ou governamentais nas mãos desses.

Por exemplo fala-se da “bazuca” (que só pelo nome mostra toda uma cultura, ou incultura) e nunca, nunca se põe em causa a lógica que lhe subjaz, a do mais, mais produção, mais crescimento, mais consumo, mais energia (mesmo quando dizem querer diminuir as emissões, como se fosse possível ter sol na eira e chuva no nabal), mais, mais, mais. Nunca, aliás nem sabem o que é a sobriedade energética, a agro-ecologia, a convivialidade, nunca se ouve falar de tal ou se usam essas palavras é para pervertê-las e enchê-las de lama, pois nunca se discute a produtividade - o que é? -, a perversão do consumismo a ela aliada (mais um número?), pois tal não cabe nas cabeças nem da esquerda nem da direita, mesmo que tenham um fundo, muito, muito ao fundo verde.

Fala-se da "bazuca" (que só pelo nome mostra toda uma cultura, ou incultura) e nunca, nunca se põe em causa a lógica que lhe subjaz, a do mais, mais produção, mais crescimento, mais consumo, mais energia

3. Não se afigura possível a não ser paliar, limitar o drama em que a humanidade já está mergulhada, e comparado com esse drama os vírus, seja quais sejam, seja qual a sua origem, os vírus todos são um joguete de criança. O produtivismo desenfreado, a lógica do mais, mais, mais, mesmo e quando disfarçada para enganar os media sôfregos de regabofe.

4. Sabendo que planetas vivos são difíceis de encontrar (embora uns lunáticos continuem a desperdiçar este em busca de outro, inexistente) e lembrando que já os Enciclopedistas anunciavam um triste espetáculo, se neste acabássemos com a humanidade, vamos colocar na agenda, não de Glasgow, outra coisa. Sem ruído que se possa contar, em próximo texto.

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