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"Quero mostrar que a lei funciona em Portugal", diz André Barbosa, jovem agredido em Albufeira

"Quero mostrar que a lei funciona em Portugal", diz André Barbosa, jovem agredido em Albufeira

Foi agredido há 22 dias e continua a garantir que não conhece o agressor nem recebeu assistência médica no Club Vida. Em declarações ao i, André Barbosa, de 30 anos, explica que lutará para que seja feita justiça.

No primeiro dia de outubro, Portugal iniciou a terceira e última fase de desconfinamento. Naquele sábado, filas formaram-se à porta das discotecas e dos bares devido ao fim das restrições horárias e de lotação, sendo que o uso de máscara no interior destes estabelecimentos também deixou de ser obrigatório. Logo no domingo, nesse regresso à vida noturna, André Barbosa foi brutalmente agredido. Os acontecimentos decorreram há 22 dias mas o jovem de 30 anos vive as consequências psicológicas e físicas dos mesmos diariamente.

“Começaram a circular especulações das pessoas em relação àquilo que poderia ter acontecido para surgir tal coisa. Basicamente, o que teria passado pela cabeça daquela pessoa que justificasse as atitudes dela”, começa por explicar a vítima, em declarações ao i, adiantando que há quem tenha sugerido que se tivesse envolvido com a namorada do agressor. “Isso não é possível porque eu não o conheço e muito menos faço ideia de quem é a rapariga em questão”.

Por se ter apercebido de que muita gente não conhecia a sua versão dos factos, dez dias depois de ter sido espancado no Club Vida, em Albufeira, André partilhou um texto numa story, do Instagram, através da qual esclareceu que “infelizmente, em casos destes, existem sempre informações erradas a serem divulgadas e presunção do que poderia ter acontecido”. À época, o barman residente na região Norte elucidou que “têm que ser tomadas medidas reais para que isto não volte a acontecer”.

“À entrada, passei pelos seguranças logo, sabia que estavam lá. Ele abordou-me, disse que queria falar comigo, sem qualquer problema, fui atrás dele e começou a perguntar-me se era o André, se tinha praticado kickboxing e expliquei que já não o fazia há muito tempo, mas que queria saber o que se passava”, diz, acrescentando que foi nesse exato momento que o segurança insistiu que é natural de Lisboa. Mas como tal não corresponde à verdade, André repetiu que é do Porto.

“E partiu para a agressão. Ele parecia saber quem eu era, mas ao mesmo tempo parecia confundir-me com outra pessoa”, explica, sendo que as imagens captadas pela videovigilância mostraram que, pouco depois do início da agressão, que durou cerca de 30 segundos, entraram no espaço dois militares de uma equipa de intervenção da GNR. Aí, a vítima ficou inanimada no chão. “Nem sequer consegui reparar nos militares da GNR”, admite, ainda abalado.

Sabe-se que a GNR abriu um processo de averiguações à conduta destes dois profissionais e o Ministério Público abriu um inquérito ao episódio de violência. Relativamente ao segurança privado, este viu ser suspenso o seu título profissional. Num comunicado divulgado no passado dia 14 de outubro, a PSP realçou que, por decisão do secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, o homem ficou proibido de exercer funções “até conclusão do inquérito criminal e do processo administrativo, entretanto instaurados”.

Importa lembrar que foi ainda decretada a “suspensão parcial da continuação do exercício da atividade de vigilante (genericamente, de segurança de instalações, para a qual o segurança privado agressor também estava habilitado), sem permissão de o fazer em locais de acesso público ou que incluam o contacto com o público”.
Já os donos do negócio emitiram um comunicado em que garantiram que o autor das agressões, que tem a “profissão de segurança”, nunca teve qualquer vínculo laboral à discoteca. “O agressor não trabalha, nem nunca trabalhou, para o Club Vida. Ele é segurança num dos bares da Rua da Oura e estava no Club Vida como cliente”, notaram, concluindo que “o Club Vida está a cooperar com a justiça e pretende repor a verdade dos factos”.

“Quero que as pessoas se sintam seguras” “As pessoas, infelizmente, estão descontroladas. O propósito da noite é passarmos um bom momento, conhecermos novas pessoas e há quem só queira causar problemas. Não controlam as suas ações quando bebem. Sempre aconteceram coisas, mas, ultimamente, tem crescido a agressividade e a violência”, diz o rapaz que era amigo de Paulo Correia, o jovem de 23 anos que perdeu a vida à porta da discoteca Boîte no Porto a 9 de outubro.

Relativamente a este caso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ao Nascer do SOL, no dia 12 de outubro, que o Tribunal “considerou fortemente indiciada a prática do crime ofensa à integridade física qualificada agravada pelo resultado morte, determinando que lhe fosse aplicada a medida de coação de prisão preventiva, invocando para o efeito a existência dos perigos de continuação da atividade criminosa, de fuga e de perturbação da ordem e tranquilidade públicas” em relação ao caso do antigo jogador de basquetebol do Guifões Sport Clube. 

“Estivemos quase 19 meses sem noite. De repente, as restrições são levantadas e as pessoas perdem o controlo. É uma especulação minha, mas acho que é isto que acontece e espero que as pessoas tenham noção daquilo que estão a fazer”, alerta André, clarificando que, ao contrário daquilo que tem sido dito, recebeu uma proposta de trabalho, com a duração de um mês, para um estabelecimento algarvio.

“Está a haver uma reestruturação da casa e queriam alguém que tivesse experiência e entendesse a melhor forma de gerir a mesma. Trabalhava lá há dois dias quando isto se desenrolou”, avança, deixando claro que não era funcionário efetivo como se tem vindo a pensar. “Ia apenas estar lá a avaliar aquilo que era necessário. E o dono desta casa tem um segundo espaço com um sócio que é o proprietário do Club Vida. Acho que foi por isto que as pessoas fizeram confusão”.

“Passei mesmo um mau bocado porque fui ao Centro de Saúde de Albufeira, fizeram-me um raio-x e viram que o maxilar estava partido. Fui para Lisboa, para fazer uma cirurgia maxilofacial”, confessa o jovem que, desde o primeiro minuto, asseverou que não recebeu qualquer assistência médica no local.  

“No entanto, disseram que tinha de ir primeiro fazer uma TAC a Faro. Queriam fazer uma cirurgia rudimentar e recusei. Voltei a Lisboa. Mandaram-me para o Porto. Surpreendentemente, depois de tudo aquilo que já tinha vivido, foi o sítio onde fui mais maltratado. Cheguei lá ainda não eram 2h e fui internado às 18h. Houve uma falta de profissionalismo gigantesca”, lamenta o jovem que foi informado de que seria submetido a uma cirurgia dali a uma semana. “Tive medo  de esperar e fui para o setor privado. Só fui operado na quinta-feira”, isto é, após cinco dias depois do ataque violento.

“Ainda estou em recuperação. Acima de tudo, controlem-se na ingestão do álcool e vão com o intuito de se divertirem”, aconselha. “Não posso mencionar como estão os inquéritos, mas estão a avançar e tenho um advogado. Quero mostrar que a lei funciona em Portugal e que não é necessário fazer justiça pelas nossas próprias mãos. Se não funcionar, significa que aquilo que ele fez é o correto. É essa a imagem que transmitiriam. Quero que as pessoas se sintam seguras”, finaliza.  

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