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A ″economia corajosa″ de Francisco

A ″economia corajosa″ de Francisco

Uma das perversões do capitalismo é o lucro desenfreado que tudo subalterniza, até as pessoas. Para conseguir maiores proveitos, até seres humanos são vendidos e comprados. Criaram-se novas e engenhosas formas de escravatura que escapam ao controlo da justiça, até nos países mais desenvolvidos. E passam despercebidas à opinião pública.

Esta é uma realidade transversal a todos os países. Uns alimentam redes de tráfico humano, outros são plataformas de trânsito e muitos são o destino das vítimas. Para chamar a atenção para esta problemática, em 2013, a ONU declarou o dia 30 de julho como o Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas.

Este ano, na passada semana, para assinalar esta efeméride, o Papa Francisco publicou na sua conta do Twitter um apelo à passagem de uma "economia do tráfico" para uma "economia do cuidado".

O Papa já tinha desenvolvido essa ideia no Dia Mundial de Oração e Reflexão Contra o Tráfico de Pessoas, o qual, por sua iniciativa, a Igreja Católica promove desde 2015 a 8 de fevereiro. Este é o dia em que se celebra Santa Josefina Bakhita, uma sudanesa que no final do século XIX foi vendida como escrava. Viveu escravizada até que um cônsul italiano a comprou e lhe deu a liberdade. Mais tarde, aderiu à congregação das Canossianas onde se destacou pelo serviço aos mais pobres.

Este ano, o dia de Santa Bakhita foi celebrado com um evento on-line, com testemunhos vindos de todo o Mundo. Nessa circunstância o Papa denunciou que o "tráfico de pessoas encontra terreno fértil no cen��rio do capitalismo neoliberal, na desregulamentação dos mercados que visa maximizar lucros sem limites éticos, sem limites sociais, sem limites ambientais".

Para contrapor a estes desmandos do capitalismo, o Papa propôs uma "economia corajosa". Uma economia com a "coragem de combinar o lucro legítimo com a promoção do emprego e de condições de trabalho dignas".

Não é fácil conjugar o "lucro desejável" com o "respeito pela pessoa humana" e "pelo Planeta". Mas esta será a única forma de colocar o mercado livre, que o Papa não demoniza, ao serviço do bem comum e da promoção integral da pessoa humana.

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*Padre

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