observador.ptObservador - 2 ago. 00:00

Será que os bancos devem recear as GAFAM?

Será que os bancos devem recear as GAFAM?

As GAFAM colocam uma questão de fundo na mudança económica e numérica: a da transformação das profissões, da flexibilidade e da agilidade que os Neobancos souberam utilizar para se adaptarem ao futuro

Temos o hábito de dizer que numerosos medos são frequentemente irracionais. No entanto, é bem possível que o medo das GAFAM [acrónimo dos gigantes da Web, Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft] não seja totalmente infundado por parte dos bancos históricos. O peso financeiro das GAFAM, os receios dos pagamentos com a Apple Pay e sobretudo as ambições loucas por parte destas empresas demonstram que o mercado dos serviços financeiros poderá sofrer uma ruptura sem precedentes e irreversível.

Numerosos actores históricos retrair-se-ão adoptando atitudes defensivas, contando com a regulamentação ou com o lobbying anti- GAFAM e aguardando as suas falhas. Outros adotarão atitudes mais positivas e ofensivas aproximando-se das entidades Fintech para conduzir o mundo de amanhã e erguer barreiras à entrada das GAFAM.

Medo na cidade

Observo um título da imprensa visivelmente repetido centenas de vezes: as GAFAM querem derrubar os bancos! A missa está dita, uma vez que a capitalização bolsista dos 5 gigantes atinge atualmente cerca de 5 300 milhares de euros; é quatro vezes o CAC 40 francês, 22% do principal índice bolsista americano, o S&P 500. Nunca um número tão reduzido de empresas tinham sido tão poderosas em Wall Street. Para as GAFAM (as GAFAM sem Facebook), são mais de 1 000 milhares de dólares, o PIB dos Países Baixos, 17° país mais rico do mundo. Os seus meios financeiros são de igual forma impressionantes: no primeiro trimestre 2019, a Apple tinha publicado um volume de negócios de 84,3 milhares de dólares e um benefício líquido de 19,9 milhares de dólares. Diante destas empresas um histórico lider francês do banco viu o seu benefício líquido saltar de cerca de 9% no terceiro trimestre 2019…a 1,2 milhares de euros para um volume de negócios de 5 milhares de euros, mais de 15 vezes menos. Por outro lado, as GAFAM sabem quase tudo sobre nós! Elas poderão propor serviços financeiros bastante personalizados, a ergonomia das suas aplicações na internet e comunicações móveis já nos permitem uma melhor experiência de “shopping”; também temos a Amazon Pay, que corresponde a 300 milissegundos para o pagamento através do reconhecimento da mão, seguro e universal. Apple Pay, Google Pay, Facebook Pay são já marcas reconhecidas, nomeadamente a Apple Pay que trabalha já com numerosos bancos. É verdade que elas ainda ficam restringidas aos pagamentos, mas as interrogações surgem por parte dos bancos. É que todos detêm, já, pelo menos um tipo de licença junto de entidades de regulamentação e as ambições são loucas: nos Estados Unidos, as GAFAM preparam-se para conquistar uma quota de 40 % de um mercado de serviços financeiros estimado em 1,35 milhares de dólares e 58% dos consumidores afirmam confiar na Apple e no Google. Este último não tinha já anunciado, também, a possibilidade da abertura de contas bancárias a partir da aplicação Google Pay para 2021 sem esquecermos o seu desejo de diversificação setorial: os seguros, a saúde e o Healthcare, bem como os setores automóvel e aeroespacial, etc? Resumindo, nada lhes mete medo. Maior ainda? Facebook e a sua moeda eletrónica, com 2,3 milhares de utilizadores face a uma potencial moeda eletrónica (o Diem), capaz de fazer tremer os Bancos centrais, cabeça-de-ponte do sistema bancário!

Por conseguinte, a mensagem é clara: os bancos históricos são atacados no que toca aos pagamentos e possivelmente, em breve, no que toca ao crédito. Há que salientar uma nuance! Apesar de gigantescas, as GAFAM, continuam sendo basicamente : serviços de pagamentos, a biometria, por vezes com cartões (Wallet), principalmente através do telemóvel, e, na verdade, sobretudo nos Estados Unidos. É certo que as GAFAM possuem ferozes ambições e há projetos em curso no que toca aos seguros, à cibersegurança, à gestão de riscos e de dados, ao crédito mas, por enquanto, pouco existe de concreto sobre estes últimos aspetos nas diferentes áreas da atividade bancária. Por outro lado, o que dizer dos seus parentes bastante mais pequenos gerados pelas GAFAM: as entidades FinTech e em particular os Neobancos que drenam um maior número de ativos bancários? Bastante mais temíveis no terreno da contestabilidade dos mercados bancários, eles são mais modestos em termos de potência económica e ainda não rentáveis e limitados em termos funcionais (exceto N26 e Revolut que também já possuem o crédito): eles não permitem o depósito em dinheiro nem por meio de cheques, também não concedem créditos nem efetuam contas-poupança! Mas a tendência está bem presente e estas são presas evidentes em torno das quais gravitam problemas relevantes provocados pela existência das GAFAM, a questão das atividades bancárias do futuro. Na verdade, os Neobancos não são exatamente como os bancos online, tais que HelloBank ou Boursorama, no entanto eles centram predominantemente os seus serviços na inovação e estão focalizados unicamente nas aplicações móveis… como as GAFAM, na realidade. Com uma palavra-chave : a experiência cliente anticipando desde já o mundo de amanhã. Em 2019, contávamos 3,5 milhões de contas ativas mantidas num Neobanco, um avanço de 75 % em relação ao ano anterior.

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Não sujeição à Silicon Valley, mas um avanço com as FinTech?

Pensando um pouco melhor, será que os bancos são contestáveis no que diz respeito à concorrência? O banco: um processo de transformação ? De gestão de riscos ? Contestável? Sim! Existem atualmente entidades FinTech que dirigem a gestão de riscos bancários. O banco, por seu lado, representa 200 anos de dados de clientes que nem as entidades FinTech nem as GAFAM possuem: contestável ? Sim, uma vez que as GAFAM e entidades FinTech poderão constituir estes dados em um ano em vez de 200 ! 500 anos de Banco central desempenhando o papel do dinheiro e da confiança: contestável? Sim, a moeda eletrónica do Facebook cria uma ameaça de disrupção sem precedentes dos Bancos centrais. Enfim, são questões fundamentais sobre o futuro do setor bancário que nos levam a voltar a nossa atenção para as entidades FinTech e sobretudo os Neobancos, porque há o mundo de amanhã… Teremos de ser ofensivos, teremos de inovar, aproximando-nos das entidades FinTech ou dos Neobancos para especificidades funcionais, financeiras ou geográficas, mesmo em termos de preço final dos serviços. O BNP Paribas, por exemplo, comprou Compte-Nickel (neobanco) em 2017 a fim de estar presente em mais de 6000 pontos de venda como tabacarias/ papelarias. A SG (Société Générale) comprou Shine (neobanco) que visa a clientela de jovens empreendedores.

In fine, as ambiciosas GAFAM colocam uma questão de fundo na transformação económica e numérica: a da transformação das profissões, da flexibilidade e da agilidade que os Neobancos souberam utilizar visando a adaptação às profissões do futuro. Além disso, através da digitalização, a Covid-19 acelerou a transformação das profissões. Tudo isto obriga a repensar o mundo de amanhã: os bancos parceiros dos Neobancos, acelerando a rentabilidade no que toca aos pagamentos, consolidando as vantagens dos «bancos históricos» em relação ao crédito e ultrapassando a experiência Apple Pay que, mesmo sendo adotada por muitos bancos, permanece limitada no mundo das atividades bancárias.

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