observador.ptObservador - 2 ago. 00:06

As consequências das políticas “anti-bebé”

As consequências das políticas “anti-bebé”

A maternidade foi desqualificada através de uma mentalidade hedonista e individualista. Ter filhos não faz parte dos planos de muitos jovens. Isto é reflexo do ambiente egocêntrico e materialista.

Os resultados preliminares dos Censos 2021, divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE),revelaram uma quebra de 2% da população portuguesa. Estes dados resultam de uma prolongada baixa taxa de fecundidade (em 2019 foi de 1,42 filhos/mulher). Portugal está a envelhecer e tem um grave problema demográfico.

Já há muito tempo que os vários governos sabem que o nosso país tem um enorme problema relacionado com o declínio da natalidade, mas têm preferido ignorá-lo, já que praticamente nada foi feito para inverter esta situação. Existem alguns fatores históricos e ideológicos que acabaram por influenciar a opinião publica e a atuação governativa dos países desenvolvidos sobre esta matéria.

Neste caso, foram identificados dois grandes perigos que poderiam colocar em risco a sobrevivência da humanidade: a guerra nuclear e a explosão demográfica. Se o armamento nuclear continua a constituir uma ameaça para a paz, os perigos de um excesso de população mundial, apoiado em argumentos pseudocientíficos, foi claramente um exagero; um falso alarmismo que ainda hoje tem vários seguidores.

Desde há várias décadas que o mundo foi ensombrado por um conjunto de políticas “anti-bebé”. Estas políticas anti-natalidade foram inspiradas na teoria populacional de Thomas Malthus (1766-1834). Este defendia que a relação entre a quantidade de habitantes no mundo era desproporcional à quantidade de alimentos e recursos naturais disponíveis, de modo que o crescimento populacional seria muito mais intenso que o crescimento produtivo. Para os neomalthusianos, o forte crescimento populacional é o responsável pelo avanço da fome, da pobreza e do subdesenvolvimento dos países. Por conseguinte, consideram que os Estados devem intervir ativamente no controlo do crescimento da população.

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O radicalismo desta posição contaminou a ONU e condicionou as políticas de ajuda humanitária. Diversas Organizações não Governamentais (ONGs) têm oferecido ajudas aos países mais pobres, sob a condição destes diminuírem a natalidade, muitas vezes através de companhas de utilização massiva de anticontraceptivos e de esterilização (por vezes compulsivas, constituindo verdadeiros crimes contra a humanidade), promoção do aborto, etc.

Como facilmente se compreende, o problema da fome no mundo não é demográfico – pois existem atualmente meios e tecnologias para produzir e distribuir os alimentos necessários -, mas sim de cariz político e social.  A resposta está na solidariedade dos países mais ricos para com os mais pobres, distribuindo a riqueza, o conhecimento, a ciência e a tecnologia.   Além disso, não existe nenhum caso na história da humanidade de uma civilização que se tenha extinguido por excesso de população, mas existem casos de algumas civilizações que desapareceram vítimas de doenças, guerras, etc., e de uma consequente involução demográfica.

A redução da natalidade também é influenciada por aspetos sociais e laborais. Em Portugal, os jovens adiam cada vez mais o nascimento do primeiro filho. A idade média da mãe ao nascimento de um filho é de 32,1 anos (a média mundial é de 28,1 anos). Uma das explicações prende-se com o facto de existir uma grande dificuldade em conciliar o trabalho com a vida familiar. Algumas empresas, nas entrevistas de emprego, colocam diretamente as seguintes perguntas às jovens candidatas: “Está a pensar ter filhos”? “E quando é que pretende engravidar”? Estas questões intimidam e acabam por ser discriminatórias, sendo uma razão importante que leva tantas mulheres a adiar a maternidade.  A pressão da sociedade está cada vez mais do lado do trabalho, já que a nossa cultura valoriza muito mais o sucesso profissional do que o investimento feito na família.

O Estado deveria incentivar a natalidade, através de políticas fiscais e laborais, flexibilizando o trabalho, alargando o trabalho a tempo parcial, reforçando a rede pública de infantários, etc. Por outro lado, as empresas também deveriam assumir um código de ética que incentivasse a natalidade, certificando-se como empresas que garantem uma boa conciliação entre o trabalho e vida familiar.

Sem sombra de dúvida que estamos a sofrer as consequências de décadas de políticas demográficas inspiradas numa ideologia anti-natalidade. A maternidade foi desqualificada, através de uma mentalidade hedonista e individualista.  Infelizmente, o desejo de ter filhos não faz parte dos planos de muitos jovens. Isto é um reflexo do ambiente egocêntrico e materialista que se disseminou na nossa sociedade. Neste sentido, a obstinação com a riqueza material pode conduzir a uma enorme tristeza e a uma solidão humana devastadora. É urgente ajudar os jovens a descobrir a beleza e a grandeza da vocação ao amor, que se torna mais fecundo e completo através dos filhos.

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