observador.ptObservador - 1 ago. 00:00

Cancro do Pulmão: importância dos ensaios clínicos

Cancro do Pulmão: importância dos ensaios clínicos

No Dia Mundial do Cancro do Pulmão é bom esclarecer o papel que os ensaios clínicos têm na vida de muitos doentes, já que é na Investigação que têm uma oportunidade de receber um tratamento inovador.

Os ensaios clínicos são estudos de investigação elaborados para determinar se os novos medicamentos, dispositivos e outras formas de tratamento são seguros e eficazes, ou se são mais apropriados para alguns doentes do que os já disponíveis. Envolve a participação voluntária de pessoas, pretendendo aprofundar o conhecimento sobre as doenças e novos tratamentos.

Recentemente, foi anunciado que em Portugal, a Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC) registou, nos últimos quatro anos, um aumento de 77% de novas submissões para ensaios clínicos. Este aumento espelha o trabalho de investigação que os grandes centros oncológicos têm desenvolvido – entre os quais está a CUF Oncologia.

Se há área pela qual me interesso e onde urge a necessidade de encontrar mais e melhores respostas é a do cancro do pulmão. Este é o principal responsável pela mortalidade oncológica mundial. Esta realidade pode ser melhorada nos próximos anos e acredito que, para isso, o esforço da comunidade científica é fundamental.

Para muitos doentes com cancro do pulmão participar num ensaio clínico acaba por ser uma oportunidade de receber um tratamento inovador que de outra forma estaria indisponível, especialmente depois de se esgotarem os tratamentos convencionais.

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Há pessoas com cancro do pulmão que participam num ensaio clínico na esperança de um resultado melhor, outras porque sabem que podem contribuir para o progresso no tratamento do cancro do pulmão, podendo a sua participação beneficiar futuros doentes. De uma forma ou de outra, a participação de doentes, em ensaios clínicos, permite que a ciência possa evoluir e tornar-se parte integrante de um processo de tratamento e, assim, encontrar soluções que garantem melhor qualidade de vida e tratamentos mais eficazes.

Todos os medicamentos que atualmente são comercializados, foram testados em ensaios clínicos, realizados de acordo com leis nacionais e internacionais. Em Portugal, um ensaio clínico só pode ser realizado após autorização do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) e obtenção de um parecer ético favorável da Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC).

Os ensaios clínicos são desenhados para responder a questões importantes. Para obter as respostas , procurando quanto possível  a segurança dos participantes , a investigação tem várias “fases”, começando pela fase pré-clínica  com estudos realizados em laboratório e em animais.

Na  fase I , o novo medicamento é estudado pela primeira vez no Homem  para determinar a dose que é possível administrar para ser eficaz  sem causar efeitos secundários graves. Inclui um número pequeno de pessoas , e a segurança é a principal prioridade.  Depois de determinar que o  medicamento é seguro com uma certa dose e método de administração, passa para a Fase II para avaliar a eficácia num certo tipo de tumor. Se um número suficiente de doentes beneficiou do tratamento e os efeitos secundários  não foram muito prejudiciais,  prossegue-se para a Fase III, com o objetivo de confirmar se o novo tratamento é melhor que o tratamento existente.

Em função dos resultados,  o medicamento é submetido para aprovação das entidades competentes – na Europa pela EMA (European Medicines Agency). Se aprovado, o novo medicamento passa a ser o tratamento standard, para utilização na prática clínica.

Os medicamentos aprovados e já disponíveis  mantêm-se em observação durante um longo período de tempo em estudos clínicos de Fase IV para aprofundar o conhecimento relacionado com interações medicamentosas ou efeitos secundários tardios.

A participação num ensaio clínico deve contemplar a discussão do consentimento informado com o  médico assistente de maneira a compreender: as diferenças do novo tratamento com o tratamento padrão, os possíveis riscos e  o que será exigido, incluindo o número de consultas, exames e cronograma de tratamento. Cada estudo confere benefícios e riscos. Pode ser útil na decisão,  incluir os familiares, amigos de confiança e até uma segunda opinião de um médico que não faça parte do estudo. É importante reservar o tempo suficiente, fazer as perguntas e sentir-se bem com a decisão tomada.

Os ensaios clínicos contribuem para o desenvolvimento de novos medicamentos e tratamentos inovadores, bem como para a melhoria da qualidade de vida. A escolha cabe ao doente e nesta decisão que deverá tomar, de forma informada, é fundamental que saiba que, para além, de poder, eventualmente, melhorar a sua condição de saúde, estará também a garantir que outros doentes, no futuro, possam beneficiar de um tratamento mais inovador.

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