jn.pt - 31 jul. 01:00
Análise: ″Pai vs Filho″, um duelo autodestrutivo
Análise: ″Pai vs Filho″, um duelo autodestrutivo
O processo de formação de um atleta é o estágio mais importante da sua evolução enquanto homem e desportista, neste período, surge a alvorada do sonho.
No decurso deste ciclo ficam gravados todos os ensaios, testes e experimentos no ADN desportivo do atleta que, no futuro, serão o seu sustentáculo de suporte para uma possível afirmação com sucesso no futebol sénior ou para o seu retrocesso e colapso desportivo.
O descomedido e exagerado aumento dos valores das transferências no futebol concebeu um novo vírus, que se dissemina e propaga ferozmente, uma estirpe que se alimenta de cobiça, ganância, obsessão cega, loucura desvairada e pressão tenebrosa que os pais despejam nos filhos.
Um vírus chamado pai que vulnerabiliza, danifica e destrói psicologicamente o filho impedindo a sua capacidade de regeneração intelectual desportiva, um vírus que deixa marcas e resquícios para toda a vida, impedindo que um grande talento do universo se manifeste e se revele com talismã.
O filho tem um sonho, os pais têm um desespero na forma de perturbação mental, que os leva a acreditar serem os progenitores do próximo Cristiano Ronaldo, um verdadeiro engodo.
Relembro que Cristiano Ronaldo foi contratado pelo Sporting, com apenas 12 anos, deixou a família na ilha e traçou o seu destino sem contaminações, sem interferências dos pais, estamos perante o melhor jogador do mundo que bateu todos os recordes, houve confluência no seu percurso.
É inadmissível, inconcebível e intolerável que os pais continuem a ter liberdade de atuação para provocar, desautorizar e interferir nas decisões do treinador, é altamente stressante para os jovens, terem duas figuras de autoridade a dar-lhes instruções.
PUBExiste um exagero comportamental agravado, que leva os pais ao extremo da irracionalidade, atos de violência com treinadores, adeptos e até árbitros, provocam uma ansiedade hiperbólica inibindo os filhos de desempenhar e executar com performance as suas funções em campo.
Contudo, o "crime" não acaba por aqui, existe um pós-jogo tenebroso e apavorador, o momento em que pai e filho chegam a casa, se o filho optou pelas instruções do treinador em detrimento do "catedrático" treinador de bancada, existem relatos de momentos agoniantes e aflitivos....
Porventura haverá noção do drama e sufoco sentidos por estes jovens indefesos? Como se pode proteger uma vítima deste abuso?
Um crime sem lei, um vírus sem vacina.
Positivo
Alguns clubes com estruturas mais amadurecidas e competentes, têm tomado medidas que impossibilitam a presença dos pais nas zonas de ação durante os treinos, evitando diálogos com o staff técnico, no entanto são medidas que apenas vão evitando alguns problemas, não são a solução do problema.
Negativo
Atuação abominável dos pais no desenvolvimento e crescimento dos filhos na formação. Um problema grave que necessita de solução, uma atuação livre, desmedida e cruel que requer intervenção das entidades competentes com intervenções e punições duras no sentido de extinguir este "vírus".
*Treinador