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Migrante afogou-se após ter sido obrigado a abandonar barco

Migrante afogou-se após ter sido obrigado a abandonar barco

Amnistia Internacional acusa autoridades gregas de agredir e deter ilegalmente refugiados, antes de os obrigarem a regressar à Turquia.

Saif, um sírio de 25 anos, tentou, em agosto do ano passado, chegar à Grécia em quatro ocasiões, mas foi sempre impedido pelas autoridades gregas. Na segunda tentativa, o grupo que integrava foi alvo de uma emboscada feita por "soldados" vestidos de preto e com a cara coberta por um passa-montanhas, que obrigaram os migrantes a regressar à Turquia. Dois homens que tentaram fugir foram violentamente agredidos e um deles, disse Saif, terá ficado com graves lesões na coluna.

O depoimento de Saif (nome falso) foi um dos 16 recolhidos pela Amnistia Internacional no âmbito do relatório "Grécia: Violência, Mentiras e Retornos", que concluiu que as autoridades gregas "estão a deter violenta e ilegalmente grupos de refugiados e migrantes antes de os devolver sumariamente à Turquia". Uma prática que viola as suas "obrigações em matéria de direitos nos termos do direito comunitário e internacional".

A investigação da Amnistia Internacional revelou que, com base nos episódios ocorridos entre junho e dezembro do ano passado, "as violações dos direitos nas fronteiras da Grécia tornaram-se uma prática enraizada".

Além do testemunho de Saif, também a experiência de Nabil, outro migrante oriundo da Síria, contribuiu para as conclusões do relatório. Apesar de já estar a viver na Grécia, este refugiado de 31 anos foi detido no porto de Igoumenitsa, com o argumento de que seria transferido para Atenas e libertado. Contudo, foi levado para um centro de detenção perto de Evros, agredido e, finalmente, forçado a regressar à Turquia. "Antes de entrar no autocarro, mostrei à polícia o meu cartão de asilo, mas eles tiraram-mo, rasgaram-no e disseram-me para entrar no autocarro", descreveu à Amnistia Internacional.

A Organização Não Governamental (ONG) registou ainda o depoimento de um indivíduo que terá sido, juntamente com os companheiros de viagem, obrigado pelas autoridades gregas a sair do barco e a entrar na água perto de uma ilhota no meio do rio Evros, onde todos permaneceram durante dias. Um dos homens forçado a sair da embarcação não podia nadar e gritou por socorro enquanto subia e descia na água. Por fim, foi arrastado pela corrente.

Detidos um ano após chegarem à Grécia

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"É evidente que os múltiplos braços das autoridades gregas estão a coordenar-se estreitamente para ​​​​​​​prenderem brutalmente pessoas que procuram segurança na Grécia, sujeitando muitos à violência, transferindo-os, depois, para as margens do rio Evros, antes de os devolver sumariamente à Turquia", alega Adriana Tidona, da Migração para a Europa, da Amnistia Internacional.

O relatório acrescenta que as agressões detetadas "incluíram golpes com paus, pontapés, socos, chapadas e empurrões, resultando por vezes em lesões graves". "Os homens eram frequentemente sujeitos a humilhantes e agressivas buscas enquanto estavam nus, por vezes à vista de mulheres e crianças. Na maioria dos casos, os atos de violência denunciados violaram a proibição internacional de tratamento desumano ou degradante. Alguns incidentes também equivaleram à tortura, devido à sua severidade e intenção humilhante ou punitiva", sustenta o documento da Amnistia Internacional.

Algumas das detenções sinalizadas pela ONG "também aconteceram em terra" e vários dos detidos eram pessoas com estatuto de refugiado reconhecido e registadas como requerentes de asilo. Viviam na Grécia há cerca de um ano.

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