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A dificuldade das viagens e recuperação no Euro 2020

A dificuldade das viagens e recuperação no Euro 2020

Realizar o Euro 2020 em várias cidades criou um cenário que não é habitual: as equipas têm de realizar milhares de quilómetros para competir. No entanto, nem todas têm o mesmo problema. Há seis seleções que vão jogar a fase de grupos em casa, sem fazer deslocações, e outras que vão percorrer mais de dez mil quilómetros. O JN falou com um preparador físico para perceber como se realiza o processo de recuperação física.

Numa fase de grupos de um torneio como o Campeonato da Europa, em que as equipas jogam com um curto intervalo de dias, com muitos jogos nas pernas após uma época no clube, o descanso e recuperação são essenciais para evitar lesões e manter os jogadores num bom nível físico.

Para isso, um dos fatores importantes são as deslocações que cada equipa tem de realizar antes e depois do jogo. Quanto menor, mais tempo há para recuperar a nível muscular. Mas a forma como este Euro está organizado, não permite que a distância percorrida de cada seleção seja justa para todos.

Há seis países que vão jogar sempre em casa: Itália, Dinamarca, Países Baixos, Inglaterra, Espanha e Alemanha. Aqui já conseguem ter uma vantagem em relação aos adversários. Para além de se manterem sempre no mesmo local de estágio e conseguirem fazer a recuperação no local, estas seleções vão ter o fator de jogar com mais adeptos, e outras vão jogar sempre fora, em terreno hostil.

Do outro lado, estão as seleções que mais distância vão percorrer entre jogos. A Suíça, por exemplo, vai viajar pouco mais de dez mil quilómetros num espaço de oito dias. A equipa está a fazer o estágio em Roma (viagem de 1.25 horas de avião a partir de Berna). Vai jogar em Baku, Azerbeijão, deslocação de 8.05 horas, e volta a Roma para defrontar a Itália. A seguir, volta a viajar as 8.05 horas para jogar contra a Turquia, novamente em Baku. No total, a equipa vai passar cerca de 25 horas a viajar.

A Polónia é a segunda seleção com mais quilómetros percorridos, num total de 9456 km, com viagem aproximado de mais de 13 horas.

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No topo da lista, seguem-se a Bélgica com 9157 km - mais de seis horas de viagem - e a Suécia com 8729 km - quase sete horas de percurso. Portugal, por exemplo, vai percorrer 3588 km, o que se traduz em mais de cinco horas de avião.

Diferenças na preparação física - fator casa e fora

O facto de haver equipas que vão jogar sempre em casa e outras que vão ter de fazer longas deslocações, é algo que afeta significativamente a preparação física dos jogadores. Para entender melhor as diferenças, o JN falou com Pedro Martins, treinador de performance de atletas e mestre em treino desportivo de rendimento.

As equipas que jogam em casa têm logo uma grande vantagem. Não há a preocupação com as viagens, não há treinos de campo que se perdem e os hábitos dos jogadores não mudam. "A vantagem das equipas que jogam em casa é que têm menos burocracias de planeamento. O staff dos gabinetes de nutrição, médico e de cozinha trabalham em conjunto e mantém-se o conforto do centro de estágio", explicou Pedro.

Acrescentou que estas seleções têm um microciclo de trabalho mais tranquilo: "Têm mais tempo para recuperar após o jogo e conseguem gerir melhor a carga de trabalho de quem não jogou".

O trabalho das equipas que jogam fora e têm de fazer várias viagens longas é mais difícil, segundo relata Pedro. "Devido à viagem, perdemos um dia de treino de campo. Depois, há atletas que não gostam de viajar. Ou porque têm dores de cabeça, ou vómitos, não é confortável e tudo isto impossibilita outro tipo de trabalho".

Há ainda um esforço a ser feito para criar as melhores condições possíveis aos atletas. É necessário ter em conta a habituação a um fuso horário e clima diferente, adaptar a logística do treino e tentar minimizar a fadiga das viagens de avião.

Para recuperar bem fisicamente das viagens e para haver adaptação ao centro de estágios, Pedro aborda o princípio da individualidade. "É importante manter as condições mais próximas da realidade comum dos jogadores. Perceber como trabalham nos clubes e como reagem aos voos. Recuperar bem é dormir bem. Para isto, tenta-se ter um quarto semelhante aos que têm em casa, escolher pares que já estejam habituados a dormir juntos e se conheçam bem, tudo isto influencia a qualidade do sono, logo, a recuperação".

Para perceber o estado em que os jogadores se encontram, é frequente responderem a questionários de bem-estar, para que a equipa técnica entenda como dormiram, como se sentem a nível emocional e físico, entre outros aspetos.

De forma a minimizar a diferença entre jogar em casa ou fora, saber agilizar o calendário dos voos é importante. "Será boa ideia viajar logo após o jogo? Há atletas que dormem mal, há uma nutrição e hidratação a ser feita e não faz sentido calcar estas linhas base. É mais vantajoso, do ponto de vista físico, perder um dia de treino de campo e permitir que os jogadores tenham uma boa noite de sono e de recuperação", frisou Pedro.

Como há seleções que vão realizar longas viagens de avião, Pedro explica que há algumas formas para tentar que isso não prejudique muito a forma física dos jogadores. "Quando se chega do voo pode-se dar uma caminhada, ou uma sessão de ginásio leve, tudo atividades externas ao jogo em si. Depende de como os jogadores se sentem". Dentro do avião, o preparador físico referiu que os atletas podem fazer alguns alongamentos ou caminhar um pouco, para combater as adversidades da viagem.

Durante o treino também existem processos de avaliação da forma física dos jogadores. Pedro explicou que existem valores padrão que os jogadores apresentam de forma regular e que caso exista um desvio dos mesmos pode ser indicativo de alguma lesão ou fadiga muscular.

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