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A Justiça e um Ctrl+Alt+Del

A Justiça e um Ctrl+Alt+Del

Primeiro foi detido e colocado em prisão preventiva. Ao fim de meio ano, aproximadamente, foi a tribunal ouvir a sua sentença. São 33 páginas (!!!), a 25 linhas cada. E uma condenação de 150 anos de prisão, que está a cumprir.

À primeira vista, podia até parecer que se tratava de José Sócrates e do afamado "processo Marquês". Mas o que resumo é tão simplesmente a maior fraude de todos os tempos, que causou mais de 65 mil milhões de euros de prejuízos, perpetrada por Bernard Madoff. É certo que, face à qualidade da prova reunida e a uma acusação resumida em 24 páginas (!!!), o financeiro declarou-se culpado, o que poderá ter acelerado o julgamento. Mesmo assim, tudo se passou em cerca de sete meses. Tudo é tudo: do inquérito ao início do cumprimento da pena.

Já a investigação "Marquês" começou em 2013, o antigo primeiro-ministro foi detido no fim de 2014, a investigação prolongou-se por mais de quatro anos e envolveu centenas de pessoas, a acusação ficou pronta em outubro de 2017, a instrução começou em janeiro de 2019 e teve o despacho de pronúncia proferido a 9 de abril de 2021, num documento de 6728 páginas (double!!!). O julgamento virá um dia e uma sentença efetiva talvez na próxima década. Uma saga, uma epopeia, uma vergonha nacional.

José Sócrates não é, quando comparado com Madoff, um genuíno vigarista encartado que enganou bancos, grandes empresas e investidores experientes. Nada que se pareça nem no charme de que se arvora ou na arrogância mal-educada que ostenta. Trata-se de um mero primeiro-ministro que se deixou corromper (diz o despacho do juiz).

A minha questão não é sobre Ivo Rosa, não é sobre Sócrates, não é sobre petições. A minha questão é saber se vale a pena reformar uma justiça como a que temos. A meu ver, não vale. Não há pactos de regime, task forces ou acordos entre agentes judiciais que a salvem. A Justiça portuguesa, para que os cidadãos acreditem nela, precisa de um enorme Ctrl+Alt+Del. Ou seja, de limpar tudo e começar outra vez. Do zero. Obrigado.

Empresário e presidente da Associação Comercial do Porto

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