www.publico.ptpublico.pt - 14 abr. 17:50

PSP de Coimbra identificou 27 pessoas que plantavam árvores junto ao Mondego

PSP de Coimbra identificou 27 pessoas que plantavam árvores junto ao Mondego

É necessário definir um programa de intervenção para o terreno na margem do rio Mondego que a autarquia terraplenou, defende engenheiro florestal.

A acção simbólica estava marcada para a tarde de sexta-feira, dia 9, em Coimbra. O movimento Mondego Vivo ia plantar árvores num terreno da margem direita do rio Mondego, entre a Portela e o Rebolim, que a autarquia terraplenou, justificando a intervenção com uma “limpeza”. No entanto, o plantio chegou a ser interrompido pela PSP, que identificou as 27 pessoas presentes. A acção acabaria por prosseguir, com a plantação de 42 árvores numa área que chegou a ser apontada como possível destino de um campo de golfe

O PÚBLICO procurou obter esclarecimentos junto do comando da PSP de Coimbra, que, por email, confirmou as 27 identificações, mas não explica ao certo o motivo. A resposta da força policial remete apenas para o artigo 7º decreto-lei 406/74, que diz que cabe às autoridades “tomar as necessárias providências para que as reuniões, comícios, manifestações ou desfiles em lugares públicos decorram sem a interferência de contramanifestações que possam perturbar o livre exercício dos direitos dos participantes”. 

Já na segunda-feira, dia 12, o movimento organizou uma manifestação que foi da delegação da Agência Portuguesa do Ambiente em Coimbra à câmara municipal, onde decorria uma reunião do executivo. O presidente do município, Manuel Machado, manifestou dúvidas sobre a viabilidade da instalação de um campo de golfe naquela área, uma vez que a estação de captação de água da Boavista fica logo a jusante.

A acção do Mondego Vivo foi precedida por outra da autarquia, que se adiantou e, dois dias antes, anunciou a plantação de 400 árvores entre a Portela e o Rebolim. No entanto, o engenheiro florestal Vasco Paiva duvida da eficácia de “intervenções avulsas”. Aquela área “necessita de uma intervenção, mas tem que ser planeada”, diz ao PÚBLICO, depois de ter publicado no Facebook um texto em que diz que a autarquia, ao limpar “lixos vários e de infestantes, como a acácia ou canavial”, acabou também por eliminar “toda a vegetação útil de cobertura e árvores que eram úteis”.

Entende que “o mal de uma intervenção de ‘limpeza’ excessiva e decapagem do solo está feito”, mas avisa que “não é conveniente plantar nesta época”, que não é ideal para o desenvolvimento das árvores. Especialmente as caducifólias, “que devem ser plantadas em período de dormência”, concentrando o primeiro esforço na implantação de raízes. Ou seja, as árvores que foram agora plantadas necessitarão de um acompanhamento regular, o que é desaconselhável para grandes extensões, nota. “Não se deve plantar em qualquer altura. Se temos técnicos e temos experiência, porque é que não as usamos?”, questiona, admitindo a bondade das intenções e o carácter simbólico de uma acção de protesto, como foi a do movimento. 

Há ainda outro aspecto, sublinha Vasco Paiva: “aquele terreno foi compactado” pela intervenção da autarquia e, para criar condições, “necessita de alguma mobilização, não basta abrir uma cova”. Agora, perante o risco de erosão da margem despida, é preciso reconstituir a galeria ripícola, aponta, mas apenas “quando houver condições para que as plantas se desenvolvam, com humidade no solo e no ar”. 

O engenheiro defende que o município deveria “apresentar um programa para aquele local – que é estranho que já não exista - aberto à participação público, com pés e cabeça, para consolidar taludes e definir uma disposição arbórea adequada”. Sem isso, considera, prolonga-se “uma certa navegação à vista”, o que “cria legítimas dúvidas sobre o que para ali se deseja”.

NewsItem [
pubDate=2021-04-14 18:50:31.0
, url=https://www.publico.pt/2021/04/14/local/noticia/psp-coimbra-identificou-27-pessoas-plantavam-arvores-junto-mondego-1958551
, host=www.publico.pt
, wordCount=558
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2021_04_14_2079500818_psp-de-coimbra-identificou-27-pessoas-que-plantavam-arvores-junto-ao-mondego
, topics=[ambiente]
, sections=[sociedade]
, score=0.000000]