jn.pt - 9 abr 01:00
Passaporte verde digital
Passaporte verde digital
Um passaporte verde digital com informação sobre o estado vacinal, com a história passada de covid-19 ou com o resultado de teste negativo é uma ideia tentadora que se associa a uma promessa de segurança.
Ao permitir que só as pessoas imunizadas ou com resultado negativo circulem livremente, este certificado poderia acelerar o retorno a uma vida normal, com um risco reduzido de transmissão de covid-19.
Apesar de tentadora, a ideia parte de pressupostos que não estão assegurados e pode acarretar problemas de equidade.
O facto de o passaporte não exigir a vacinação para a realização das atividades atenua o potencial de iniquidade, uma vez que a vacina não está ainda acessível a todos. A obrigatoriedade de ter sido vacinado para o acesso a determinadas atividades poderia exacerbar as desigualdades existentes, criando dois mundos em que num as pessoas poderiam viajar e multiplicar as suas atividades enquanto no outro essa possibilidade se manteria limitada.
Incluir os outros dois critérios - ter tido infeção por covid-19 ou um teste negativo - reduz esse risco, mas traz outros problemas porque os pressupostos em que assenta o conceito estão por assegurar: que um indivíduo vacinado não corre o risco de ficar doente nem de transmitir a infeção aos seus contactos; quem esteve doente não corre o risco de ser reinfetado.
Sabemos que a vacina reduz o risco de formas graves de doença, mas não sabemos se se mantém o risco de doença, infeção e transmissão aos contactos, nem quanto tempo perdura o nível de imunidade. Além disso, nem todas as pessoas vacinadas terão a mesma resposta imunitária e aquelas que já estiveram doentes podem ser reinfetadas.
Sendo assim, a vacinação ou a história passada de covid-19 não devem excluir a necessidade de realização de teste nem a manutenção dos cuidados para reduzir a transmissão.
PUB*Pneumologista