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Visão | Por que razão as variantes do vírus têm nomes tão estranhos?

Visão | Por que razão as variantes do vírus têm nomes tão estranhos?

B.1.1.7, B.1.351 ou B.1.315. Estes nomes designam novas variantes do SARS-CoV-2 e uma das razões para serem tão estranhos é evitar a estigmatização das áreas geográficas onde foram descobertas estas alterações do genoma do vírus. Os cientistas sabem que é urgente encontrar uma nomenclatura mais simples

O desafio é exigente. Cada vez que surge uma nova variante do vírus SARS-CoV-2, os cientistas procuram identificá-la com um nome que seja, simultaneamente, único, informativo, fácil de memorizar e de pronunciar e, acima de tudo, que não contenha referências geográficas.

Quando surgiram os primeiros casos da doença, ainda antes de ser apelidada de Covid-19, muitos lhe chamaram o “vírus chinês” ou o “vírus de Wuhan”, o que originou episódios de xenofobia e mesmo de violência contra pessoas de origem asiática em vários locais do mundo.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) viu-se obrigada a criar um grupo de trabalho, com várias dezenas de especialistas, precisamente com a missão de desenvolver um método universal de nomeação.

A OMS viu-se obrigada a criar um grupo de trabalho precisamente com a missão de desenvolver um método universal de nomeação das novas variantes

“Este novo sistema atribuirá às variantes que suscitam preocupação um nome que seja fácil de pronunciar e de lembrar e também minimizará efeitos negativos desnecessários nas nações, economias e pessoas”, garante, em comunicado, a OMS.  

Apesar desta nova forma de nomeação ainda não ter sido anunciada, a proposta que parece reunir maior consenso entre os cientistas convocados pelas Nações Unidas é bastante simples: apelidar as novas variantes de V1, V2, V3… À medida que vão sendo identificadas pelos investigadores, revela o jornal The New York Times.

Já em 2015 a OMS tinha alertado para a importância de não serem adotadas terminologias ostracizantes, como localizações geográficas, nomes próprios, espécies de animais ou mesmo tipos de alimentos.

Os cientistas dão nomes às variantes quando as alterações do genoma coincidem com novos surtos. Estas alterações apenas merecem verdadeira atenção quando implicam mudanças no comportamento do vírus.

Para saber mais

A variante B.1.1.7, inicialmente identificada no Reino Unido, por exemplo, transmite-se mais facilmente. Já a B.1.351, parece escapar, parcialmente, à resposta do sistema imunitário e começou por ser registada na África do Sul – aqui está uma prova da dificuldade de desassociar as variantes do local onde são descobertas…

Na verdade, a B.1.351 já está presente em 48 países e não faz sentido continuar a chamá-la de “variante sul-africana”. Além disso, apesar de ter sido identificada, pela primeira vez, nos laboratórios da África do Sul, ela já poderia estar a circular noutros países que não a detetaram.

Na verdade, a variante B.1.351 já está presente em 48 países e não faz sentido continuar a chamá-la de “sul-africana”

Mesmo as letras e os dígitos atualmente utilizados têm um significado que pode esconder uma ligação geográfica. As variantes B.1, por exemplo, estão relacionadas com um surto ocorrido na primavera passada em Itália.

A preocupação da OMS com a associação das variantes a um país ou região também se deve a motivos de Saúde Pública, uma vez que acarreta o perigo de os Estados evitarem ser os primeiros a revelar alterações do genoma do vírus para não ficarem irremediavelmente relacionados com elas.

Atualmente, algumas variantes passaram a ser identificadas simplesmente pelas suas mutações, devido à sua semelhança com nomes próprios, como a D614G, uma das primeiras, que os investigadores passaram a chamar de “Doug”. Também a N501Y, que está presente em várias das variantes que suscitam preocupações, ganhou a alcunha de “Nelly”. E a “Eeek”, uma mutação que terá a capacidade de tornar o vírus menos suscetível às vacinas, deriva da E484K.

O sistema de nomenclatura que vier a ser proposto pela OMS terá de ser prático para os cientistas e eficaz para a opinião pública deixar de simplificar nomes complicados e confusos com uma simples referência geográfica. É este quebra-cabeças que os cientistas continuam a tentar resolver.

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