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Visão | “As mantas gigantes valem muito mais vivas do que mortas”

Visão | “As mantas gigantes valem muito mais vivas do que mortas”

Das praias do Norte do Peru, onde salva mantas gigantes, para as montanhas suíças de Davos, onde tenta conquistar os líderes mundiais para a defesa do ambiente, assim vão os dias de Kerstin Forsberg, fundadora da ONG Planeta Océano

Antes do confinamento, podíamos facilmente encontrar Kerstin Forsberg numa comunidade de pescadores algures no Peru, ou então no Fórum Económico e Social em Davos, na Suíça, tentando conquistar os principais líderes mundiais para a causa da conservação. “É uma loucura estar em Davos num dia e, no seguinte, numa pequena comunidade pesqueira. Mas é uma oportunidade e encaro-a com enorme entusiasmo”, conta-nos. “A comunidade presente em Davos é muito privilegiada. Um grupo reduzido à escala mundial, por isso sinto que tenho obrigação de levar até lá a voz das outras pessoas”, afirma, consciente, no entanto, de que “chegar ao coração destes líderes políticos demora sempre algum tempo”. Não que esteja a pensar em desistir…

Kerstin Forsberg fundou a Planeta Océano, uma ONG dedicada “à investigação científica, à educação ambiental e ao desenvolvimento sustentável, trabalhando em conjunto com as comunidades locais”, quando apenas tinha 22 anos. Recém-licenciada em Biologia, tinha feito voluntariado no Brasil numa organização que protegia tartarugas marinhas e, ao regressar ao seu país, decidiu replicar a ideia. Nada em que não tivesse experiência: “Tinha 8 anos quando fundei a minha primeira ONG, um clube para proteger os animais de um pequeno zoo da escola”, diz, divertida.

Quinze anos depois da fundação, a Planeta Océano promove diversas iniciativas junto de escolas e universidades, sensibilizando a população, e defende uma abordagem baseada no mercado através, por exemplo, do ecoturismo. Assim tem conseguido proteger tartarugas, tubarões-martelo e peixes-serra, que se julgava estarem extintos no Peru. Mas as mantas gigantes são, sem dúvida, a sua grande bandeira.
Capaz de saltar sobre as águas ou de flutuar suavemente pelos oceanos (ainda que pese o mesmo que um hipopótamo!), a manta gigante “é um animal mágico e gracioso, e também o mais inteligente de toda a família de raias e tubarões”. Infelizmente, está em perigo de extinção por causa da sobrepesca e de taxas de reprodução baixíssimas: uma cria a cada sete anos.

Kerstin Fosberg a preparar-se para um mergulho com as mantas

Em 2015, a ação da Planeta Océano levou o governo peruano a incluir as mantas gigantes na lista de espécies protegidas, e convenceu a comunidade piscatória de que “as mantas valem muito mais vivas do que mortas” para os turistas. Foi o suficiente para, no ano seguinte, ser galardoada com um Rolex Award, prémio que, confessa, lhe mudou a vida: “De um momento para o outro, deixámos de ser um pequeno projeto comunitário e passámos a ser um modelo à escala global para outras ONG. Surgiram várias novas oportunidades, como o convite para participar no Fórum Económico Mundial, ou para dar uma entrevista a uma revista portuguesa, como a VISÃO.”

O prémio juntou-a também a outra galardoada, Barbara Block, investigadora da Universidade de Stanford, que desenvolveu uma nova tecnologia de sensores eletrónicos capazes de acompanhar os grandes animais marinhos de forma mais eficiente. Juntas, passaram os últimos meses a estudar os padrões de comportamento das mantas gigantes no Norte do Peru. O resultado foi publicado no fim de fevereiro pela British Ecological Society e lança novas luzes sobre os hábitos destas populações, como o facto de passarem a maior parte do seu tempo à superfície, a profundidades inferiores a dois metros, mergulhando durante a noite até aos 50 metros, em busca de zooplâncton.

Numa ação de rua com crianças, sensibilizando as populações.

No entanto, a pandemia alterou radicalmente o dia a dia de Kerstin, que agora trabalha a partir de casa, “lutando para conciliar o trabalho com a maternidade”, como tantos. “A minha filha entrou no ano passado para a escola e, como só tinha uma hora de aulas online por dia, tive de a ensinar a ler e a escrever”. Ainda assim teve tempo para ajudar a UNESCO a criar um projeto de literacia para os oceanos, que será desenvolvido durante a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-30) que agora começa e, em janeiro, ainda regressou a Davos, mas via Zoom.

“No Fórum faço parte do grupo Friends of Ocean Action (a par de nomes como Sylvia Earle e Richard Branson) e do Global Future Council on Systemic Inequalities and Social Cohesion, e posso dizer que o trabalho nestes espaços é realmente produtivo. Daí a acontecerem mudanças sistémicas vai um grande passo, mas temos de continuar a pressionar e a ser perseverantes na mensagem.”

Para saber mais

Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a Rolex, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar voz a pessoas e a organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis. Saiba mais sobre esta missão comum.

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