sol.sapo.ptsol.sapo.pt - 4 mar. 22:40

Um vulgar marujo de proa

Um vulgar marujo de proa

O Mar – Uma História Cultural fala de escritores e artistas, piratas e marinheiros célebres. Mas também de homens menos conhecidos. Era mesmo o que eu procurava.

De tempos a tempos, o ditoso leitor tem a felicidade de terminar um livro e poder escolher o senhor que se segue ao sabor do apetite do momento.

Aconteceu-me esta semana. Primeiro pensei que talvez me atirasse ao calhamaço de Dominic Lieven A Rússia contra Napoleão, uma nova abordagem ao conflito épico que Tolstói retratou em Guerra e Paz. Li os dois primeiros capítulos, mas não fiquei 100% convencido. O resto ficaria para outras núpcias.

Talvez ter andado a rever o filme Titanic na TV por estes dias tenha tido alguma coisa que ver com o assunto: ocorreu-me entretanto que gostaria de conhecer mais sobre a vida no mar ao longo dos tempos. Percorri mentalmente os títulos da minha biblioteca onde poderia encontrar alguma informação. Tenho livros sobre a expansão marítima e navegadores portugueses; um ou outro sobre a caça à baleia; meia dúzia deles sobre a pesca do bacalhau; um mini-núcleo sobre naufrágios célebres... Mas procurava algo mais generalista.

Ao fim de algum tempo ocorreu-me que a História das Viagens Marítimas, de Donald S. Johnson e Juha Nurminen (ed. Principia) podia ser uma boa opção. Mas o seu formato e, sobretudo, o peso (mais de três quilos) desaconselham a leitura sem o apoio de uma secretária. Lê-lo na cama, por exemplo, tanto quanto um exercício intelectual, seria uma verdadeira prova de esforço.

E foi aí que me lembrei que tinha adquirido recentemente um livro mais maneirinho que já andava a desejar há algum tempo: O Mar – Uma História Cultural, de John Mack (ed. Book Builders). Pensei: ‘Não é tarde nem é cedo’.

O título do livro de John Mack tem o seu quê de enigmático, pois o mar em si é algo de intemporal e fugidio. Como nota Álvaro Garrido no prefácio: «Em rigor, o mar não é um sítio com história ou que, por si próprio, contenha algum tipo de registo histórico. Não existem nele marcas de pegadas, por exemplo. Por norma o mar consome e oculta os homens e as embarcações. Antes de ter acontecido a aproximação massiva das sociedades às zonas costeiras, no começo do século XIX, o mar estava vazio. Era um espaço, mas não era um lugar».

Numa consulta rápida ao miolo do livro encontrei referências a barcos de pedra e barcos dos mortos, a escritores como Joseph Conrad e Victor Hugo, a artistas como J.M.W. Turner e Hokusai. A piratas e marinheiros célebres, claro, mas também a outros menos conhecidos, como Richard Dana Jr., que em 1834 trocou a universidade de Harvard por um navio da marinha mercante. «O_longo relato de Dana sobre a sua experiência enquanto vulgar marujo de proa foi considerado na sua época um retrato fiel da vida marítima vista da perspectiva de um marinheiro da marinha mercante». Era exatamente o tipo de coisa que eu procurava.

Numa das badanas de O Mar – Uma História Cultural, descubro que John Mack, autor que até aqui eu desconhecia por completo, escreveu outros títulos sugestivos: Museum of the Mind: Art and Memory in World Cultures (O Museu da Mente: Arte e Memória nas Culturas do Mundo) The Art of Small Things (A Arte das Coisas Pequenas), nenhum dos quais ainda traduzido para português. Acho que pode ser o início de uma bela amizade.

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