jn.pt - 23 fev 00:00
Ao postigo
Ao postigo
Nos muitos comentários com que a imprensa, a televisão e a rádio nos presenteiam, em torno da covid e seus vários filamentos temáticos, abundam coisas risonhas (embora ditas com a maior seriedade), o que, por vezes, torna um pouco mais suportável a agrura do confinamento.
Desde a crítica ao Governo por não ter fechado as fronteiras antes que o vírus entrasse, passando pelas autorizadas e circunspectas previsões de tudo o que aconteceu - depois de ter acontecido, até aos extraordinários resmungos corporativos contra a "desmotivadora" e "desonrosa" aceitação da ajuda de médicos e enfermeiros estrangeiros, de tudo se tem visto um pouco.
Por parte de quem escreve estas breves linhas, existe também em carteira uma boa coleção de queixas e censuras, com saliência natural para a terrível "abertura" da época de Natal, que só tem como atenuante o facto de toda - mas toda - a gente ter ansiado por ela.
Há vários outros aspetos merecedores de crítica, pela sua aparente irracionalidade - desde a obnóxia política em matéria de venda de livros (expurgada já em França, mas é a França) até ao fecho das barbearias e cabeleireiros, cujos efeitos estéticos e higiénicos são já visíveis nas ruas. Estes últimos estabelecimentos oferecem a garantia de uma lotação limitada pelo número de cadeiras; as livrarias não atraem propriamente ajuntamentos, e são capazes de vender "ao postigo", mas não podem. Que tem o postigo de mal? Que evidência científica existe acerca do postigo? É preciso estudar o postigo a sério.
*Professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa