www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 26 jan. 08:01

Presidente Zuckerberg

Presidente Zuckerberg

Perto do centro de conferências de Pasadena, onde decorria no Verão de 2017 a terceira edição da convenção não partidária Politicon, alguém colocou um cartaz gigante onde se lia ″F*ck Zuck 2020.″ Na altura, largos meses após a chocante derrota de Hillary Clinton nas presidenciais, havia intenso burburinho sobre quem os Democratas deviam escolher para concorrer em 2020. Seria Oprah, a apresentadora de televisão tão ou mais popular que Trump? Seria Tom Hanks, como Michael Moore chegou a sugerir? Ou seria Mark Zuckerberg, o poderoso CEO da maior rede social do mundo que a Fortune elegera ″Pessoa de Negócios do Ano″ em 2016?

Perto do centro de conferências de Pasadena, onde decorria no Verão de 2017 a terceira edição da convenção não partidária Politicon, alguém colocou um cartaz gigante onde se lia "F*ck Zuck 2020." Na altura, largos meses após a chocante derrota de Hillary Clinton nas presidenciais, havia intenso burburinho sobre quem os Democratas deviam escolher para concorrer em 2020. Seria Oprah, a apresentadora de televisão tão ou mais popular que Trump? Seria Tom Hanks, como Michael Moore chegou a sugerir? Ou seria Mark Zuckerberg, o poderoso CEO da maior rede social do mundo que a Fortune elegera "Pessoa de Negócios do Ano" em 2016?

Dá para ver como o desespero e a confusão se tinham instalado nas hostes democratas após a derrota, mas este flutuar de nomes conhecidos não era piada nenhuma para muita gente em Silicon Valley - o que explica que alguém em Pasadena tenha feito um cartaz a rejeitar a ideia.

Mas nesta altura ainda nem se tinha dado o tremendo "techlash", ou revolta contra as grandes tecnológicas, que se abateu nos últimos anos. Também não tinha sido ainda revelado o escândalo da Cambridge Analytica, nem se tinha percebido qual a extensão da conivência de Zuckerberg em relação à manipulação do Facebook. Nem a subserviência à administração Trump em troca de mão leve na regulação. Na altura, Zuckerberg nutria, ainda que de forma velada, a ambição de chegar mais longe - foi assim que muita gente interpretou a sua "tour" pelos 50 estados norte-americanos. O CEO do Facebook disse que queria falar com as pessoas e perceber como viviam, o que queriam, como trabalhavam e o que esperavam do futuro. Pareceu, a alguns, que ele poderia estar a ponderar uma candidatura presidencial, e isso inclusive foi debatido na imprensa.

Nick Bilton, o mesmo autor que escreveu a fantástica saga de mentiras e facadas pelas costas que esteve na origem do Twitter, argumentou na Vanity Fair que a questão de uma candidatura de Zuckerberg era a sério. "Um número crescente de pessoas parece pensar que Mark Zuckerberg vai concorrer à presidência dos Estados Unidos um dia. E alguns, incluindo eu, acreditam que ele pode ganhar", escreveu Bilton. "Ele quer ser imperador é uma frase que se tornou comum entre as pessoas que o conhecem ao longo dos anos."

A diferença que um mandato faz. Sabemos que os eleitores têm memória curta para muitas coisas, mas é difícil conceber que alguma vez esta oportunidade volte a ser aberta. O que se passou nos últimos quatro anos foi profundamente consequente e agora que Donald Trump está fora da Casa Branca, Mark Zuckerberg tem um sério problema para resolver com o novo inquilino e com um congresso que passou a ser controlado pelos democratas. O escrutínio que se deu após o escândalo da Cambridge Analytica, e que deu origem a investigações, processos por abuso de posição dominante e até a possibilidade de o Facebook ser obrigado a separar-se do Instagram e WhatsApp, só irá piorar. O novo presidente dos Estados Unidos não é fã de Zuckerberg e não quer convidá-lo para um cocktail na Casa Branca; isso mesmo disse Sarah Miller, que esteve na equipa de transição de Biden, a James Clayton para uma peça da BBC.

Antes de vencer as eleições, a campanha de Joe Biden tinha publicado uma "carta aberta" ao Facebook, repreendendo a rede social por permitir que Trump continuasse a promover teorias da conspiração. Depois, um pouco antes de tomar posse, Biden usou palavras fortes sobre Zuckerberg numa entrevista ao New York Times. "Nunca fui um fã do Facebook, como vocês provavelmente sabem", afirmou. "Nunca fui um grande fã de Zuckerberg. Acho que ele é um problema sério."

Biden disse que a questão é mais alargada que a concentração de tanto poder nas suas mãos e se prende também com a falta de privacidade e a falta de responsabilização - e defendeu mesmo a revogação da polémica secção 230 da lei que regula a decência nas comunicações, algo que vinha sendo pedido pelos conservadores e por Trump.

Uma medida desta abrangência seria muito consequente para toda a internet, não apenas para o Facebook, mas Biden justificou-a porque disse que o Facebook não é meramente uma empresa de internet, categoria para a qual a excepção foi criada.

"Estão a propagar falsidades que sabem ser falsas, e devemos estabelecer padrões tal como os europeus estão a fazer relativamente à privacidade."

Biden não foi vago nem incerto, e com estas palavras deixou claro que as coisas não vão ficar como estão. O Facebook já estava a enfrentar uma crise existencial e agora tem de lidar com a oposição do homem mais poderoso do mundo ocidental. Não só a ideia de um Presidente Zuckerberg é agora uma miragem, Zuckerberg terá de se ver com a hostilidade do verdadeiro presidente.

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