observador.ptObservador - 26 jan. 00:02

Da impreparação ao fracasso final: as famílias que aguentem

Da impreparação ao fracasso final: as famílias que aguentem

Não há win-win possível nesta triangulação: profissionais, empregadores, famílias. De batuta na mão, o Governo diz, desdiz e contradiz, manda, tapa ol...

O fecho dos estabelecimentos de ensino e os 15 dias de férias escolares revelam, com clareza meridiana, a impreparação do Governo para o cenário pandémico (previsível), bem como a sua incapacidade em assumir responsabilidades e arcar com as consequências dos seus erros.

Esse facto não passaria disso mesmo se as consequências não tivessem reflexos diretos na vida dos milhões de portugueses que, de um dia para o outro, têm de ajustar as suas vidas sem apelo nem agravo.

Falamos das famílias que, de um dia para o outro, se veem a braços para acomodar o regime de teletrabalho com os filhos todos fechados em casa (agora de férias, daqui a 15 dias já se verá), sem previsão de qualquer moldura compensatória de acompanhamento à família, que – inacreditavelmente, não se aplica ao teletrabalho.

Aos pais é pedido que se fechem em casa e trabalhem oito horas por dia como se estivessem no escritório e, ao mesmo tempo, tenham lá em casa com eles os filhos de férias, sejam eles em número de dois, quatro ou seis, tenham eles uma média de 5, 10 ou 15 anos.

O que se está a pedir aos pais é, pura e simplesmente, uma impossibilidade e uma desonestidade. Ninguém nestas circunstâncias consegue trabalhar oito horas e cumprir as suas obrigações laborais sem prejuízo de horas de descanso e ninguém consegue cumprir as suas obrigações de parentalidade sem prejuízo da resposta esperada no trabalho.

Não há win-win possível nesta triangulação: profissionais, empregadores, famílias. De batuta na mão, o Governo diz, desdiz e contradiz, manda, tapa olhos e ouvidos e foge para outras paragens.

Entretanto, acena-se com os 66% de compensação (sendo que o Estado só arca com 33% deste encargo) para os trabalhadores em apoio à família (e o teletrabalho não conta), como se isso compensasse a perda de rendimentos das famílias, sobretudo as mais numerosas.

Estas não têm qualquer margem para acomodar mais quebras, como não têm margem para delegar em terceiros, como não têm margem para fazer cinco-em-um, senão com um prejuízo pessoal e familiar muitas vezes (e em muitas dimensões) irrecuperável.

A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas acaba de propor que haja uma modulação nas medidas de apoio às famílias que tenham em conta o número e a idade dos filhos e que seja dada a possibilidade de redução de horário de trabalho com compensação integral pelo Estado, consoante essas variáveis. Para filhos com menos de 3 anos, uma redução de duas horas por dia por filho, para filhos até aos 12 anos, uma redução de uma hora por dia e por filho. Não resolve tudo, mas mitigaria a injustiça.

Questionamos o que pretende o Governo fazer com a famigerada “bazuca” da Europa.

Propomos que, com a urgência que o tempo pede, a use justamente para compensar os Portugueses dos sacrifícios que lhes tem exigido, permitindo-lhes dar resposta às obrigações laborais que sustentam a nossa economia e às obrigações familiares que sustentam o nosso país.

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