www.jornaldenegocios.ptjng@negocios.pt (Jornal de Negócios) - 25 jan. 01:13

De quantas bazucas iremos precisar

De quantas bazucas iremos precisar

Passada a pandemia, o país precisa que se produza o dobro, que o Estado gaste metade, que a carga fiscal diminua e que os credores nos perdoem boa parte da dívida contraída. Tirando esta última condição, a esquerda não deixará que isso aconteça e a direita não tem força para chegar ao poder.

Após meses de negociação e de confronto entre “frugais” e “gastadores”, a Europa aprovou um pacote de recuperação de 1,8 biliões de euros cabendo a Portugal cerca de 45 mil milhões de euros. Na altura, todos festejaram um acordo que só a pandemia permitiu. Efetivamente, embora com intensidades diferentes, todos os Estados foram afetados por esta crise de saúde pública, mas que se prolongará tais as consequências sociais e económicas. O processo de aprovação ainda terá de passar em diferentes parlamentos nacionais pelo que não é certo quando é que este plano estará efetiva e plenamente em marcha. Seguramente nunca antes do 2.º semestre de 2021. No que diz respeito a Portugal estão previstos cerca de 30 mil milhões de euros distribuídos ao longo dos próximos sete anos e 15 mil milhões em subvenções, isto é, apoios a fundo perdido. É verdade que nunca tanto dinheiro entrou tão rapidamente no país e no apoio à sua economia. Todos entenderam que seria uma extraordinária oportunidade, talvez a última, de corrigir atrasos crónicos da nossa economia, capitalizar o nosso frágil tecido empresarial, avançar na digitalização das empresas e dos serviços públicos e aproximar os níveis de rendimento dos nossos trabalhadores da média europeia.

Tudo isto seria possível se o ponto de partida fosse fevereiro de 2020. Mas desde então a economia deteriorou-se violentamente e o rombo nas contas públicas não está ainda determinado. Apenas com a queda do PIB sabemos que produzimos menos 20 mil milhões de euros em 2020 em comparação com 2019. Portugal empobreceu cerca de 9% de um ano para o outro. Se a isto acrescentarmos o crescimento da dívida pública que está próxima de atingir 140% do PIB, então perceberemos bem para onde estamos a caminhar. Todas as previsões para 2021, apresentadas pelo “otimista irritante” António Costa, revelavam que a recuperação estava em marcha e que o caminho era difícil, mas a vitória era certa. O dia histórico da chegada das vacinas era a prova de que a tormenta tinha acabado. Ainda não completámos o primeiro mês de 2021 e já tudo está em causa. Com o país de novo confinado, ninguém sabe por quanto tempo, é absolutamente certo que as previsões económicas terão de ser revistas em baixa e a recuperação, a acontecer, será muito tímida. E se algumas empresas conseguiram resistir até agora, a verdade é que muitas acabarão por fechar portas.

O Governo está cansado e sem ideias. As mudanças de rumo são constantes e muitos ministros andam desaparecidos. O desgaste do primeiro-ministro é evidente e vai perdendo credibilidade. As sondagens ainda não o demonstram, tal a incapacidade demonstrada pela oposição de se constituir como alternativa. O quadro não poderia ser mais negro. Ao nível das respostas não há novidade. O Estado promete pagar aos que forem obrigados a fechar, aos que forem forçados a trabalhar em casa, aos que tiverem de tomar conta dos filhos, aos que ficarem doentes, aos que contactarem quem ficou doente, aos que estão desempregados, aos que ficarem abaixo de determinados níveis de rendimento. É a velha máxima de que não ficará ninguém para trás. Ao mesmo tempo vai atirando dinheiro para cima dos problemas, abrindo vagas no Estado e tapando os buracos que todos os dias vão surgindo. Tudo isto está a custar muito dinheiro. Quanto? Ninguém sabe. Nem tão-pouco sabe se o Governo será capaz de cumprir o que prometeu.

Mais uma intervenção externa acabará por chegar, conduzindo-nos à dependência absoluta, à mão estendida e ao afastamento ainda maior dos parceiros europeus. Porque tudo isto está a custar muito dinheiro que teremos um dia de pagar. A bazuca que nos iria salvar com mais investimento e correção de desequilíbrios ainda não chegou e já está praticamente gasta ou comprometida com despesa corrente. A menos que novas bazucas sejam disparadas chegaremos ao final da pandemia como um Estado inviável e totalmente dependente. O sobressalto cívico que muitos pedem não é para ficar em casa ou derrotar a direita-extremista. É para evitar a desgraça que nos espera. Se ainda for possível.

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