ionline.sapo.ptVítor Rainho - 25 jan. 08:45

Leituras à vontade do freguês

Leituras à vontade do freguês

Quando mais de 80% dos votos estavam contabilizados, muitos deitavam foguetes e outros mantinham-se cautelosos. Como acho uma diversão estas contas, comentava, a essa hora, que era o mesmo que estarmos na Volta à França e alguém estivesse a deitar foguetes antes da chegada aos Alpes e aos Pirenéus

As noites eleitorais são sempre uma diversão para quem gosta destas contas. – as etapas que, normalmente, determinam o vencedor. Posto isto, é óbvio que Marcelo Rebelo de Sousa é o grande vencedor das eleições. Quase não fez campanha eleitoral e conseguiu mais votos do que em 2016. O que acho mais engraçado é a leitura que muitos fazem dos resultados. Questões óbvias. Em 2016, o PCP teve um candidato totalmente desconhecido do grande público, um ex-padre da Madeira de seu nome Edgar Silva, que conseguiu quase os mesmos votos que João Ferreira, um homem tão idolatrado por alguma esquerda caviar. Isto é indesmentível. Em segundo lugar, o BE perdeu mais de 300 mil votos em relação às legislativas e quase os mesmos votos em relação às presidenciais. Em terceiro lugar, Ana Gomes ficou muito longe do mais de um milhão de votos de Sampaio da Nóvoa e, apesar de ter ficado em segundo, foi uma das derrotadas da noite – é certo que ficou à frente de André Ventura, mas por muito pouco. Guardando o candidato do Chega para o fim, restam Tino de Rans e Tiago Mayan. O patusco candidato do distrito de nascimento da minha mãe, que faria anos ontem, não conseguiu alcançar os 150 mil votos de 2016, mas foi uma aragem de ar fresco. Divertido e assertivo, mandou umas bocas que ficaram. Já o candidato da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan, fez-me lembrar a história do anúncio do whisky: meio cheio para as visitas e meio vazio para os da casa. Conseguiu muitos mais votos que o seu partido nas legislativas, mas ficou a quilómetros de André Ventura, que só tinha tido menos 200 votos que a Iniciativa Liberal. Por fim, Ventura. É um dos grandes vencedores da noite mas, ao contrário de muito boa gente, acho que a direita só vai passar pelo Chega nas próximas legislativas. Depois, será um fenómeno semelhante ao PRD, de Ramalho Eanes. Desaparecerá tão rápido como apareceu. Por uma razão muito simples: Ventura não terá mão nos trogloditas do seu partido que estão à espera de poder. P. S. Uma última nota para a abstenção. Falo por mim: como todos os indicadores o demonstravam, estaríamos perante uma abstenção histórica, mas os eleitores contrariaram, felizmente, esses prognósticos. Da minha parte, a minha vénia a quem contrariou essa previsão e a mea culpa por ter dado gás a essas previsões, em que acreditava piamente.

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