jornaleconomico.sapo.ptjornaleconomico.sapo.pt - 25 jan. 18:15

Irão espera “primeiro passo” dos EUA para regressar ao acordo nuclear

Irão espera “primeiro passo” dos EUA para regressar ao acordo nuclear

Kourosh Ahmadi, especialista em relações internacionais, diz que se há vontade política tanto dos Estados Unidos como do Irão, não é difícil salvar o JCPOA. Teerão quer reciprocidade no comprometimento.

Em entrevista ao jornal “Tehran Times”, o especialista iraniano em relação internacionais Kourosh Ahmadi disse que “é provável que o Irão e os Estados Unidos enfrentem o desafio de quem regressará primeiro aos seus compromissos” no âmbito do acordo nuclear (conhecido pela sigla JCPOA). E enfatizou que, tendo “os Estados Unidos violado os seus compromissos e não podendo dizer que o Irão violou o acordo, então os Estados Unidos devem realmente e logicamente dar o primeiro passo para regressar ao JCPOA”.

Um ano depois de o governo de Donald Trump retirar os Estados Unidos do acordo nuclear de 2015, o Irão começou a reduzir gradualmente os seus compromissos com o acordo em intervalos bimestrais. No entanto, recorda o especialista, o Irão ainda é membro do JCPOA e ainda está a cumprir alguns termos do acordo.

O Irão anunciou repetida e inequivocamente que, se as partes do acordo nuclear honrarem os seus compromissos, o país reverterá imediatamente as suas decisões. Referindo-se à recente posição assumida pela equipa da administração Biden, observou que “quem deve dar o primeiro passo é uma questão que foi levantada anteriormente, em 2015, e o Irão tomou uma série de medidas técnicas que foram verificadas pela Agência Internacional da Energia Atómica, e então os norte-americanos começaram a cumprir os seus compromissos. O governo Obama implementou o JCPOA em 16 de janeiro de 2016 porque o Irão mostrou flexibilidade”.

Kourosh Ahmadi expressou a esperança de que os dois lados tomarão as medidas necessárias para regressarem ao JCPOA de forma recíproca, dizendo: “Há forma de as partes chegarem a um meio-termo”. O ex-diplomata acrescentou que “se houver vontade política suficiente de ambos os lados, não haverá grande problema para regressar ao JCPOA”.

Mas também recordou que “os europeus e os Estados Unidos consultam Israel e outros países da região sobre o regresso ao JCPOA”, o que de algum modo pode complicar o projeto. O governo israelita de Benjamin Netanyahu tem dito repetidamente não estar de acordo com Joe Biden e que os Estados Unidos não devem regressar ao perímetro do acordo nuclear.

Durante a campanha eleitoral, Biden prometeu voltar ao JCPOA se vencesse as eleições; “Oferecerei a Teerão um caminho confiável de volta à diplomacia. Se o Irão voltar a cumprir estritamente o acordo nuclear, os Estados Unidos voltariam a aderir ao acordo como ponto de partida para negociações subsequentes. Com os nossos aliados, trabalharemos para fortalecer e estender as disposições do acordo nuclear, ao mesmo tempo que abordaremos outras questões preocupantes”, escreveu Biden num artigo de opinião para a CNN em setembro passado.

Mas, mais tarde, acabaria por ser menos taxativo: o Irão “aumentou a capacidade de ter material nuclear e estão a aproximar-se da capacidade de ter material suficiente para uma arma nuclear. E há os problemas com mísseis. Tudo isto é muito difícil e não o podemos fazer sozinhos. E é por isso que temos que fazer parte de um grupo maior, lidando não apenas com o Irão, mas com a Rússia, com a China”.

Entretanto, o Irão elaborou um plano para lidar com os desafios decorrentes da abordagem de Biden em relação ao JCPOA. Mahmoud Vaezi, chefe de gabinete do presidente iraniano, deu recentemente uma entrevista em que traçava as linhas gerais desse plano.

Em primeiro lugar, as autoridades iranianas querem que os Estados Unidos suspendam todas as sanções económicas que foram impostas ao Irão durante o governo de Donald Trump. “Tudo o que aconteceu sob a administração de Trump deve voltar à era pré-Trump”, explicou. Mas o responsável iraniano sabe que isso não será fácil, uma vez que o governo Trump colocou as sanções no âmbito da luta contra o terrorismo, o que torna difícil para Biden fornecer ao Irão um alívio rápido.

De qualquer modo, o plano iraniano inclui, segundo Vaezi, um conjunto de medidas recíprocas – isto é, Teerão aceita reverter a sua nova aposta no nuclear mas não disse que reverterá tudo de uma só vez: fá-lo-á de forma gradual, à medida que os Estados Unidos cumprirem a sua parte do lado das sanções.

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