jn.pt - 25 jan. 00:00
A escola sem sol
A escola sem sol
"Afinal, vamos embora, professor?" O lamento era fulminante. Ir embora não era o mesmo que ir para casa. Era ser arrancado a um lugar com que se identificava.
O lugar onde a alteridade se descobre e se forjam amizades de sempre. Voltavam as horas esticadas ao computador, as rotinas digitais, a insensaboria da escola reduzida ao cubo do quarto: horizonte curto, sem objetiva grande-angular. A experiência passada acumulava experiências insípidas dessas.
"Nem sempre o mau é o pior; e nem sempre o bom é o melhor. O pior e o melhor não é o que nos acontece. É o que nós fazemos". "Mas em casa não se aprende!". "Em casa não se aprende como na escola. Mas a tua casa pode ser a melhor escola. És tu que a fazes. À tua medida. Desafia-te!". Havia ali uma deceçãozinha, insegura, de quem se defrontava com a sua autonomia frágil. A educação para ela começa tão tarde. A segurança da vida só se aprende com muito fracasso e tanta coragem em levantar-se. A escola era segura. Era o seu castelo. Nela tudo fazia sentido. "Tens medo da tua escola? Vais ser diretor, professor e aluno! Tens apenas que gerir tudo da melhor forma!". "Gerir?". Palavrinha curta, complexa, pouco aprendida. Pedia muita coisa: o tempo, atenção, decisão e depois vinha o autodomínio, o controlo! "Aprender em casa é como estar numa escola sem sol!". "Pois, só te queixas do sol quando não o tens! Sabes o que fazem os girassóis? Quando não há sol, voltam-se uns para os outros para se alimentarem da luz que cada um reflete! Precisas de aprender o segredo dos girassóis: autónomos, quando há sol; solidários, quando a luz é escassa". A autonomia da vida aprende-se assim.
Professor de História no Colégio D. Diogo de Sousa, Braga