observador.ptObservador - 25 jan. 00:01

Como aguentar o confinamento - parte II

Como aguentar o confinamento - parte II

É compreensível procurar o alívio e fontes de gratificação que compensem a angústia, mas sabemos bem que a realização de uma gratificação imediata tra...

Como nos mantemos em casa quando o que apetece é apanhar o avião? Voar para bem longe e fugir da dramática realidade à nossa volta. As notícias são cada vez mais tristes. Os números arrasadores relacionados com o maldito covid e os efeitos colaterais ao mesmo, retira qualquer orgulho à dita (questionável) responsabilidade social.

Dos extremos que vão do medo paralisante e elevada ansiedade à negação do que passa, assistimos aos que se fecham e isolam e os tais que continuam a agir como se nada estivesse a acontecer, e continuam a dar asas aos seus passos conforme o desejo que escolhe o seu destino.

Sabemos bem como posições radicais são um perigo para aqueles que as praticam e para os que com esses têm de se cruzar. Rezam os factos da História universal, sabe-se dentro de portas de consultórios os efeitos psicológicos de tal. Manter o equilíbrio nesta altura é um desafio enorme para todos. Pensar com razoabilidade é crucial. Quando nos sentimos apertados, só queremos fugir. E como tal, podemos correr o risco de ir em direção a um precipício se não avaliarmos bem onde estamos e para onde queremos ir. É compreensível procurar o alívio e fontes de gratificação que compensem a angústia, mas sabemos bem que a realização de uma gratificação imediata traz mais prejuízos do que benefícios a longo prazo.

Lembremos a experiência levada a cabo no ano de 1972, na Universidade de Stanford, com crianças em idade pré-escolar, conhecida como o teste do marshmallow. Em contexto laboratorial, os investigadores colocavam as crianças numa sala sem estímulos para brincar e tinham somente como sugestão aguentar 15 minutos para comer o marshmallow colocado à sua frente. Se conseguissem aguentar o tempo todo, no final, ganhavam dois. Mais tarde, estas mesmas crianças foram observadas por volta dos seus 16 anos e concluiu-se que as que suportaram melhor o tempo de espera durante a experiência, obtinham melhores desempenhos escolares. É clara a evidência experimental que quanto maior a capacidade de auto-controlo e maior capacidade em resistir aos impulsos, melhores são os resultados. Fácil observarmos a transposição de tal para a nossa vida em geral, certo?

Neste contexto actual, é-nos pedido para adiarmos gratificações em prol da saúde de todos. A liberdade dos nossos movimentos não é inconsequente. Ser capaz de esperar e manter neste momento mais o foco no dever e menos no prazer é a incitação a fazer uso da nossa maturidade. Dentro de casa podemos também usufruir dos pequenos prazeres e manter a perspectiva do que desejamos alcançar a longo prazo. É verdade que o mundo está caótico mas não vai acaba amanhã.

anaeduardoribeiro@sapo.pt

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