observador.ptObservador - 25 jan. 00:01

É urgente retomar o rastreio do cancro do colo do útero

É urgente retomar o rastreio do cancro do colo do útero

O cancro do colo do útero ou cervical é o quarto mais comum em mulheres. Em tempos de pandemia, é urgente lembrar que a prevenção, o rastreio e a vaci...

É preciso ser claro: o cancro do colo do útero ou cancro cervical é o quarto tipo de cancro mais comum em mulheres. Em 2018, cerca de 570.000 mulheres foram diagnosticadas com cancro cervical em todo o mundo e cerca de 311.000 mulheres morreram da doença. Só em Portugal, no mesmo período, foram diagnosticados 750 casos de cancro do colo do útero com 340 fatalidades a que corresponde uma taxa de 2.8/100 000 mulheres.

O Vírus do Papiloma Humano (HPV) é responsável por praticamente todos os casos de cancro do colo do útero, 90% dos cancros anais, 40% dos cancros da vulva, da vagina e do pénis – e 12% dos que atingem a orofaringe.

Para além da clareza, destaque-se uma mensagem de esperança: a infeção raramente conduz ao cancro, somando menos de 2% dos casos. Há um longo período de latência, de mais ou menos 15 anos entre a infeção pelo HPV e o cancro, o que demonstra a urgência da prevenção.

Sendo verdade que a maioria das infeções por HPV é eliminada espontaneamente e não cause sintomas, não deixa de ser um facto que a infeção persistente pode causar o cancro do colo do útero. A prevenção primária, através de vacinação eficaz contra o vírus, assim como as abordagens de prevenção secundária, o rastreio e o tratamento de lesões pré-cancerosas, podem e devem evitar a maioria dos casos.

Atualmente, em Portugal, o programa de rastreio do cancro do colo do útero destina-se à população do sexo feminino com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos. O teste primário passa pela pesquisa do vírus do papiloma humano, a realizar de 5 em 5 anos.

Nos casos em que o rastreio é considerado anormal e em que o risco de lesão pré-maligna o justifique, as mulheres devem ser encaminhadas para as consultas/Unidades de patologia cervical, em Ginecologia. A presença de sinais ou sintomas ginecológicos justificam observação fora do âmbito do programa de rastreio e devem ser também encaminhadas para a consulta de Ginecologia.

Neste período de incerteza e grande complexidade devido à COVID-19, o rastreio da doença oncológica, que na sua primeira fase se inicia nos Cuidados de Saúde Primários, tem vindo a falhar pela grande diminuição de consultas e, consequentemente, pela redução dos exames de rastreio e de diagnóstico precoce que permitem detetar o cancro e a doença pré-maligna.

A pandemia veio agravar o já difícil equilíbrio entre as necessidades e a capacidade de resposta de muitos serviços hospitalares de todo o país, quer na patologia ginecológica, como noutras onde a rapidez de resposta é fundamental para levar a bom termo o diagnóstico precoce e a eficácia terapêutica, com tratamentos mais efetivos e menor taxa de complicações.

Os primeiros meses da pandemia tiveram uma influência muito negativa no diagnóstico atempado de muitos doentes com cancro. De acordo com a estimativa da Liga Portuguesa Contra o Cancro, perto de mil novos casos de cancro da mama, colo do útero e colorretal, não foram diagnosticados nos últimos dez meses, devido à COVID-19.

Por tudo isto, importa salientar a relevância de se manter a vigilância periódica em ginecologia, sem receios, já que os hospitais aplicaram as medidas de segurança necessárias para minimizar os riscos de transmissão do novo coronavírus. É preciso afirmar que nem todas as situações associadas ao rastreio de cancro cervical podem ser adiadas com segurança.

A Sociedade Portuguesa de Colposcopia e Patologia do Trato Genital Inferior, à semelhança do que foi defendido por outras sociedades internacionais, devido à situação de emergência de saúde pública gerada pela pandemia da COVID 19, emitiu em março de 2020 recomendações de atuação que contemplam a existência de um atraso nos tempos de resposta, habitualmente aconselhados nos algoritmos de orientação dos doentes, para os casos em que existem alterações dos testes de rastreio.

É também importante ter em conta a retoma do normal funcionamento do processo preconizado no Plano Nacional de Vacinação, com a vacina contra o HPV, a cargo do Serviço Nacional de Saúde e dos Centros de Saúde, sem o qual se podem temer repercussões negativas, nomeadamente com o aumento de lesões pré-malignas e mesmo de cancro do colo do útero.

Como mensagem final, reforço a importância de manter uma vigilância periódica em ginecologia pelo seu médico assistente, de forma a que, caso surja alguma alteração do foro ginecológico, seja possível realizar um diagnóstico precoce que irá permitir uma maior eficácia do tratamento.

O maior fator de risco para o Cancro do Colo do Útero é a ausência de rastreio.

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