observador.ptobservador.pt - 23 nov. 23:29

Um dia Santo(s) com a aula de João e a lição do senhor Hermínio (a crónica do Sacavenense-Sporting)

Um dia Santo(s) com a aula de João e a lição do senhor Hermínio (a crónica do Sacavenense-Sporting)

Ia acabar em manita, teve mais dois dedos de conversa, acabou com um resultado de mão cheia: Sporting goleou Sacavenense (7-1) porque não facilitou. E...

“Quem manda no futebol português tem de ter um bocadinho mais de noção das coisas. Percebemos que existem negócios com as operadores televisivas mas é preciso ter consciência que é um plantel totalmente amador contra um plantel profissional e marcar um jogo para as 21h15 de uma segunda-feira é completamente descabido porque nós temos jogadores que trabalham durante o dia, outros que trabalham durante a noite. Provavelmente durante o jogo se houver alguma substituição que as pessoas não percebam é porque provavelmente o jogador tem de ir trabalhar a seguir e tem de se ir despachar… Não faz sentido terem em conta este pormenor que é um ‘pormaior‘ porque temos estudantes e trabalhadores, não há nenhum profissional. Têm de se deitar cedo. Ainda por cima havendo condições para marcarem isto para o fim de semana. Alguém mandou mais…”.

Vontade não faltava ao Sacavenense para bater o pé ao Sporting, à semelhança do que conseguiu no ano passado o Alverca frente aos leões na primeira grande surpresa da prova (e logo contra o então campeão em título). Todavia, a vida dos jogadores do conjunto de Sacavém é muito mais do que o futebol, como destacou o treinador da equipa, Rui Gomes. “Isto não pode existir, é preciso ter mais cuidado com isto porque está a pôr em risco a saúde dos jogadores e o próprio trabalho dos jogadores que não são profissionais, que têm os seus trabalhos e que precisam ter cuidado nestas situações. Podíamos jogar às 21h15 de sábado ou até de domingo mas numa segunda-feira, depois ou antes do trabalho, não faz sentido nenhum”, acrescentou ainda o técnico a esse propósito.

Apesar de toda a motivação e da ausência de pressão que se foi notando ao longo dos últimos treinos, este era outro obstáculo que a equipa do Campeonato de Portugal enfrentava esta noite no Estádio Nacional, a casa emprestada para a terceira eliminatória da Taça de Portugal. Sem a romaria dos adeptos, sem a habitual festa dentro e fora do recinto, sem público nas bancadas, sem receita extra nos cofres (que costuma ser mais do que um terço porque os conjuntos da Primeira Liga costumam abdicar da sua parte da verba de bilhética), sem a possibilidade de chegar com um outro descanso tendo em conta as atividades profissionais dos atletas. E, já agora, sem grande margem para surpresas perante um líder do principal Campeonato avisado para as dificuldades neste tipo de jogos.

“O que quero é voltar aos níveis de agressividade, quero que se divirtam a jogar mas não vão dar espaço a ninguém para jogar”, soltou Rúben Amorim, num dos pequenos vídeos publicados pelo Sporting dos treinos realizados nos últimos dias, num alerta para evitar qualquer tipo de facilitismos. E foi isso também que se viu nas opções iniciais: apesar de ter promovido seis alterações em relação ao conjunto que goleou o Vitória em Guimarães, com entradas de Luís Maximiano, Gonçalo Inácio, Antunes, Borja, Matheus Nunes e Jovane, o técnico não abdicou de alguns elementos que fazem parte da estrutura normal, casos de Coates, Neto, Nuno Santos ou Sporar (estes dois últimos, mais nos derradeiros compromissos). Além deles, houve João Mário. E com João Mário vem tudo o resto. Com uma outra curiosidade em torno do internacional português que voltou este ano por empréstimo a Alvalade.

Esta terça-feira, o médio vai participar na aula de Educação Física do “Estudo em casa”, na RTP Memória, um programa que teve início em abril durante a pandemia para ajudar os jovens estudantes e que ainda se mantém. Antes, deu uma aula em campo, no Jamor. Não precisou de aparecer muito, não quis brilhar mais mesmo tendo pela frente um adversário mais acessível, jogou e fez jogar – e ainda compensou algumas vezes os posicionamentos precipitados de Matheus Nunes, que obrigavam o jovem brasileiro a recorrer à falta. Hermínio Lúzio, o speaker de 84 anos que é sócio desde 1952 do clube, que esteve na inauguração do campo do conjunto de Sacavém e que esteve pela primeira vez nessas funções com apenas 20 e poucos anos deu mais uma lição ao microfone mas este seria um dia Santo(s) para Nuno, ala leonino que marcou um golo, fez duas assistências e voltou a mostrar uma adaptação perfeita às características pretendidas por Rúben Amorim num ala jogando em 3x4x3.

Mas se o grande objetivo do Sacavenense passava por retardar ao máximo o primeiro golo do Sporting, essa vontade não durou mais do que… 136 segundos: na primeira aproximação dos verde e brancos à baliza contrária, Jovane Cabral encontrou espaço entre linhas mais no corredor central e assistiu Nuno Santos nas costas da defesa do conjunto visitado para o desvio de pé esquerdo de Nuno Santos para o golo inaugural. Com Borja a revelar dificuldades em carrilar jogo pelo flanco direito, a saída de bola do Sporting era feita sobretudo pela esquerda, com Antunes a subir ou Gonçalo Inácio a conduzir para criar desequilíbrios na organização do Sacavenense, que ainda teve uma boa jogada a explorar a rapidez dos avançados mas sem resultados práticos.

Quando o Sporting conseguia entrar no espaço entre defesa e meio-campo adversário era meio caminho andado para criar perigo, quando a bola chegava aos pés de Jovane Cabral era quase certo que ia nascer uma oportunidade. E foi assim, num lance com muitas parecenças com o golo inaugural, que Nuno Santos acertou no poste da baliza de Tiago Mota (13′), que brilhou pouco depois a remate de João Mário de fora da área para defesa apertada após desvio num companheiro de equipa (17′). No entanto, o golo era uma questão de tempo, acabando por surgir numa insistência após livre lateral de João Mário com Nuno Santos a assistir Coates e o uruguaio a desviar mais alto na área para o 2-0 (26′). A resistência do Sacavenense estava de vez quebrada e mais ficaria ainda antes do intervalo, com Jovane Cabral a marcar de penálti após falta de Iaquinta sobre Sporar (32′). João Mário, com um remate a rasar a trave após toque de classe fora da área, teve o último lance de perigo antes do descanso.

Em condições normais, o intervalo seria uma espécie de segundo início para o Sacavenense, que poderia serenar os ânimos que foram muito abaixo sobretudo depois do 3-0 de Jovane Cabral. No entanto, e se a primeira parte tinha começado mal, a segunda foi ainda pior: na insistência após canto, Nuno Santos conseguiu ganhar a linha de fundo pela esquerda e cruzou para Coates fazer o primeiro bis de sempre na carreira (47′). Foi aqui, ao contrário do que seria previsível, que começou também o melhor momento dos visitados no jogo, com dois remates longe da baliza de Luís Maximiano antes do golo da consolação marcado por Iaquinta, a aparecer mais rápido do que Matheus Nunes (que passou para a direita com a saída de Antunes ao intervalo) ao segundo poste após um cruzamento prensado na direita do ataque que assumiu uma trajetória complicada para Luís Maximiano (53′).

Não sofrer era um dos objetivos paralelos do Sporting que, de forma um pouco fortuita, acabou por cair mas nem por isso o conjunto verde e branco deixou de procurar com insistência mais golos até ao final do encontro, entre um lance em que Jovane Cabral mediu mal a força do passe para Nuno Santos encostar para a baliza (58′), uma bola na trave de Gonçalo Inácio (67′), duas grandes defesas de Tiago Mota a remates de Nuno Santos e Bruno Tabata na área (71′) e mais um cabeceamento de João Mário que passou a rasar o poste da baliza contrária. Ainda assim, o(s) golo(s) acabaria(m) por surgir na sequência de duas defesas apertadas de Maximiano a tentativas na área de Yuk e Luís Gaspar. E em versão tripla: Pedro Marques surgiu da melhor forma ao primeiro poste para desviar de cabeça para o 5-1 após cruzamento de Matheus Nunes da direita (86′); o mesmo Pedro Marques aproveitou uma defesa incompleta de Tiago Mota para empurrar para o 6-1 na pequena área (90′); e Gonçalo Inácio, de cabeça após livre lateral de Bruno Tabata na direita, fechou as contas em 7-1 no terceiro minuto de descontos.

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