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Alterações climáticas, barreiras artificiais e qualidade da água ameaçam lampreia

Alterações climáticas, barreiras artificiais e qualidade da água ameaçam lampreia

Estudo é de investigadoras da Universidade de Évora, em colaboração com especialistas mundiais.

Alterações climáticas, barreiras artificiais e falta de qualidade das águas são as principais ameaças às populações de lampreias que migram do mar para os rios para se reproduzirem, identificou um estudo liderado por duas investigadoras da Universidade de Évora.

Além das alterações climáticas, das barragens (e outras barreiras) nos principais rios e da falta de qualidade das águas, o trabalho identificou ainda ameaças como os baixos caudais dos rios, incluindo a gestão de fluxos dos mesmos, a degradação ambiental, a perda de habitat disponível, a predação, as relações presa-predador e a exploração em excesso das espécies.

O estudo de Maria João Lança, professora no Departamento de Zootecnia e investigadora do Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), e de Catarina Sofia Mateus, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Universidade de Évora, incidiu sobre dez espécies de lampreiaanádromas (designação das espécies de peixes adultos vivem no mar e migram para os rios para desovar) existentes no mundo e foi publicado na revista científica Journal of Great Lakes Research.

Em Portugal, existem duas espécies de lampreia anádroma, a lampreia-marinha (Petromyzon marinus) e a lampreia-de-rio (Lampreta fluviatilis). A lampreia-marinha é a que desperta interesse comercial, especialmente para a gastronomia, e está classificada como “vulnerável”, enquanto a lampreia-de-rio, espécie mais pequena e sem interesse comercial, está “criticamente em perigo”, a categoria mais elevada de ameaça.

De acordo com Maria João Lança, “a perda de conectividade longitudinal dos cursos de água e a pesca excessiva e ilegal são as principais ameaças que a lampreia-marinha enfrenta, enquanto a lampreia-de-rio é exposta também à perda de conectividade longitudinal dos cursos de água e a todas as intervenções humanas.

Maria João Lança e Catarina Sofia Mateus fazem parte de uma equipa que estuda estas espécies há 20 anos e têm contribuído para a aplicação de medidas de gestão e conservação de peixes migradores “amplamente reconhecidas e premiadas a nível nacional e internacional”, refere a Universidade de Évora em comunicado divulgado agora.

Para algumas espécies, diz Maria João Lança, há lacunas de conhecimento, “destacando-se algum desconhecimento sobre a sua distribuição, abundância e como mitigar as ameaças às quais estão sujeitas” e a tendência geral é que “o conhecimento e interesse nas espécies no hemisfério Sul é inferior ao observado para espécies do hemisfério Norte”.

As lampreias anádromas são espécies semélparas (reproduzem-se apenas uma vez, morrendo logo de seguida) com um ciclo de vida que se divide em dois meios distintos: os adultos vivem no mar e migram para os rios para realizar a postura, desovando em zonas de seixo, cascalho e areia.

As larvas vivem enterradas no leito arenoso do rio, em zonas pouco profundas e com correntes fracas, e são filtradoras, enquanto os adultos são parasitas e alimentam-se do sangue de outros peixes, mas não se alimentam durante a migração e desova.

A lampreia-marinha ocorre nas principais bacias a norte do rio Sado e, em menor abundância, na bacia do Guadiana, enquanto a lampreia-de-rio ocorre apenas na bacia do rio Tejo, estando restrita à sub-bacia do rio Sorraia, onde é extremamente rara.

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