expresso.ptLuís Paulo Salvado - 27 out. 08:36

Que visão estratégica para Portugal?

Que visão estratégica para Portugal?

Até ao início de novembro, o Expresso, em parceria com o The Lisbon MBA Católica|Nova, publica vários contributos para ajudar a relançar o país no período do pós-pandemia, no âmbito económico, social e ambiental. O projeto ReImaginar Portugal, promovido pelo Alumni Club, foi lançado pelo The Lisbon MBA para promover, numa só plataforma, um debate público sobre o nosso futuro. Não perca, no próximo dia 2 de novembro, a conferência que marcará uma nova fase desta iniciativa, convidando para o debate vários CEO, gestores, representantes institucionais e membros da sociedade civil

Sou cético em relação às “visões estratégicas” para os países. Mesmo nas empresas, as estratégias que se têm revelado mais eficazes são as emergentes, aquelas que vão sendo construídas ao longo do caminho, aproveitando oportunidades e superando os obstáculos que surgem inesperadamente. A incerteza é cada vez maior e isso não vai mudar, como esta pandemia nos veio relembrar.

Mas, então, não devemos fazer nada? Deixamos cada um seguir o seu rumo sem nenhuma orientação “inspiradora”? Não, pelo contrário. Podemos e devemos fazer muito, tendo consciência que o resultado poderá ser bastante diferente daquele que antecipámos. Por isso, prefiro reformular a questão para “Como utilizar as nossas capacidades e recursos para um desenvolvimento mais justo e sustentado de Portugal?”. As intervenções que acredito serem as mais eficazes não derivam de um ideal para o país, mas sim em nos capacitarmos melhor para o futuro e em eliminarmos as barreiras que nos têm impedido de progredir.

Aprender a aprender nos novos oceanos da informação

A competência mais decisiva é, de longe, a qualificação média dos portugueses. Apesar dos bons progressos que fizemos nas últimas décadas, mantemo-nos, neste domínio, na cauda da Europa, espaço onde competimos e nos serve de referência. A globalização e digitalização da economia agravarão ainda mais esta desvantagem. Tudo deveria ser feito para reinventar o sistema de ensino e de formação profissional, pensados numa lógica industrial. É um enorme desafio para grande parte dos países, poderá ser uma oportunidade para nós.

A aprendizagem para o mundo atual e futuro impõe-nos um paradigma diferente, quer no que diz respeito aos métodos e modelos usados, quer no que toca aos conteúdos e competências a desenvolver. “Disrupting Class”, de Clayton Christensen, e “Creative Schools”, de Sir Ken Robinson, ilustram bem a profunda transformação a fazer, tal como os vários relatórios do Fórum Económico Mundial sobre “Education 4.0”. Uma forte aposta no desenvolvimento da criatividade (sim, pode ser ensinada), o reforço das competências da aprendizagem – aprender a aprender melhor – e a capacidade de as utilizarmos ao longo de toda a nossa vida produtiva, são elementos essenciais nesta mudança.

O “como” será mais importante do que “quais”

Não acredito que existam setores prioritários ou predestinados para investirmos. O que devemos fazer é reforçar a aposta naqueles onde já provámos que podemos ter sucesso, criando neles o maior valor acrescentado possível. Só assim conseguiremos aumentar os nossos níveis de riqueza para, posteriormente, ambicionarmos distribuí-la de forma a criarmos uma sociedade mais justa.

Para exemplificar falarei do Turismo, setor que muito pode contribuir para as exportações e para a criação de emprego. Esta crise dá-nos a oportunidade – diria mesmo a obrigação – de apoiarmos a reconstrução de um sector que pode vir a ter um papel ainda mais relevante na economia. Mas, para que isso aconteça, teremos de evoluir do atual posicionamento médio-baixo no mercado internacional para uma proposta de valor mais sofisticada, atraindo uma clientela com maior poder aquisitivo e que procura sobretudo bens de experiência e culturais (uma sinergia bem-vinda, potenciando adicionalmente os meios para uma renovação nesta última área). As boas noticias é que já temos vários dos ingredientes importantes – o clima, a segurança, a qualidade das infraestruturas, a hospitalidade, a gastronomia, etc. – mas falta-nos um componente crítico: um serviço consistente de elevada qualidade que proporcione a tal experiência diferenciadora. Isto remete-nos para o tópico anterior, exigindo um fortíssimo investimento em formação profissional.

O que pode e deve melhorar?

Muita coisa, mas destaco duas: uma Administração Pública mais ágil, competente e motivada e uma atitude de maior cooperação entre nós, sobretudo quando precisamos de agregar esforços para melhorarmos a nossa posição competitiva.

Apesar dos investimentos que têm sido feitos nos serviços públicos, estes continuam a não responder adequadamente às necessidades e expectativas dos cidadãos e agentes económicos. Há que aprofundar a digitalização em curso – que está ainda “à superfície” – e requalificar e motivar os seus quadros. A reforma de que se fala há décadas não deve esperar mais tempo. Haverá coragem política para a fazer?

Historicamente, sempre que precisamos da força coletiva de várias entidades – seja na esfera privada das empresas, seja em combinação com o setor público – temos ficado claramente aquém do que outros países conseguem. Há quem atribua isso à inveja (que dizem) que nos carateriza. Não sei se a razão é esta, mas isso penaliza-nos bastante. Poderá explicar também, pelo menos parcialmente, porque temos tão poucas multinacionais com projeção global. Não tendo soluções mágicas para anunciar, deixo um ditado africano que deveria inspirar-nos: “se queres ir depressa vai sozinho, se queres ir longe vai acompanhado”.

Veja mais contributos aqui.

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