visao.sapo.ptsvicente - 26 out. 09:56

Visão | E, apesar de tudo, resistem

Visão | E, apesar de tudo, resistem

Os 50 anos da CGTP, e a história do movimento operário e sindical português é um capítulo fundamental da luta antifascista e da resistência pela defesa dos direitos dos trabalhadores, pela liberdade e pela democracia

IResistir é existir duas vezes. Dupla e cumulativamente. Resistir é existir com consciência, existir sem consciência é sobreviver. E mesmo nestes tempos estranhos e indefinidos, apesar de tudo, tantas e tantos resistem.

Técnicos de som e de luz, técnicos de palco, cenógrafos, coreógrafos, músicos e compositores, bailarinos, produtores, atrizes e atores, designers, fotógrafos, trabalhadores da cultura resistiram e resistem à precariedade e ausência de apoios sociais efetivos. Trabalhadores dos lares, das cantinas escolares, de empreendimentos turísticos, dos transportes, da limpeza, dos CTT, profissionais de saúde resistem a despedimentos ilegais e outras violações de direitos. Contra o racismo e múltiplas formas de discriminação e opressão, resistem e lutam pela igualdade, na lei e na vida. Onde existem direitos e não se cumprem, resistir para não perder; onde não existem direitos, resistir para que existam.

IICorria o ano de 1970. Primeiro de Maio, primeiro de coragem e de luta. Na estação do Rossio e nos comboios da linha de Sintra, em Cabo Ruivo, no Arco do Cego, em Sacavém e Moscavide, foi assinalada a data. No Barreiro, na Baixa da Banheira, em Alhos Vedros, na Moita e no Lavradio, mais de seis mil pessoas envolvidas em manifestações; dois dias depois, centenas de jovens foram presos também por isso. Marinha Grande, Vila Franca de Xira, Porto, Grijó e Espinho foram também palco de ações de luta. Cinco meses depois, as direções dos sindicatos dos caixeiros, lanifícios, metalúrgicos e bancários convocam a primeira reunião intersindical que viria a acontecer a 11 de outubro. Estariam presentes 13 sindicatos e a ordem de trabalhos contemplava a contratação coletiva, o horário de trabalho, a censura e a liberdade de reunião.

Em 1971, após importantes manifestações pelas 44 horas semanais, a repressão sobre o movimento operário e sindical foi brutal, foram destituídas direções sindicais e impostas “comissões administrativas”, vários dirigentes sindicais foram presos. Em julho de 1971, os bancários realizaram grandes manifestações, em Lisboa e no Porto, pela imediata libertação de Daniel Cabrita, dirigente sindical. Apesar da violenta repressão, a luta dos trabalhadores continuou e não foi possível abafar “Viva o 1.º de Maio! Abaixo a Guerra Colonial! Abaixo o Fascismo! Fora a PIDE!”.

Celebram-se agora os 50 anos da CGTP, e a história do movimento operário e sindical português é um capítulo fundamental da luta antifascista e da resistência pela defesa dos direitos dos trabalhadores, pela liberdade e pela democracia.

Que nunca nos faltem forças para, apesar de tudo, resistir.

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