rr.sapo.ptOpinião de Francisco Sarsfield Cabral - 26 out. 06:17

​A China e os direitos humanos

​A China e os direitos humanos

Os dirigentes chineses não acreditam em direitos humanos, que consideram uma invenção ocidental. Só que essa posição não é meramente teórica, pois se traduz em frontais e violentas agressões aos direitos humanos, dentro e fora da China.

A economia chinesa já está a recuperar, subindo cerca de 5%, enquanto o resto do mundo se encontra ainda imerso em recessão. E Pequim afirma que já ultrapassou a pandemia do coronavírus. Talvez, mas no início do surto pandémico os chineses tentaram encobri-lo.

O carácter extremamente ditatorial do regime chinês acentuou-se desde que Xi Jinping chegou ao poder, há oito anos. Ora é fácil a um Estado que em permanência vigia e controla a vida pessoal dos seus cidadãos tomar medidas de combate à pandemia de uma enorme brutalidade – medidas que nenhum país democrático poderia nem deveria tomar.

A guerra comercial que Trump lançou contra a China não teve os efeitos que o presidente americano esperava. A balança comercial entre os dois países (único critério de sucesso económico para Trump) continua deficitária para os EUA. E há economistas que calculam ter essa guerra prejudicado mais a economia americana do que a chinesa. Daí que, na sua campanha eleitoral, pouco ou nada tenha Trump evocado a guerra comercial com a China.

A China de Xi Jimping aspira tornar-se uma potência mundial dominante, ultrapassando a prazo os EUA. Quer mostrar ao mundo que a eficácia económica evidencia a superioridade do seu sistema sobre os regimes democráticos liberais.

A China tem desenvolvido, com assinalável êxito, a inteligência artificial e outras tecnologias de ponta, como o reconhecimento facial, o que permite às autoridades invadir a esfera pessoal e privada dos chineses. Xi Xinping encara como um aviso o colapso do comunismo soviético, resultante, em grande parte, de a economia da URSS não ter conseguido aguentar a competição tecnológica com os EUA. Por isso Xi incentiva uma peculiar forma de capitalismo de Estado, muito focada na inovação tecnológica.

Trata-se, para o presidente chinês, de uma modernização do marxismo, com marca chinesa. Mas do marxismo parece ter retido sobretudo a ditadura dita do proletariado. Escrevia recentemente, em editorial, o semanário “The Economist” que a perseguição aos muçulmanos no território chinês de Xinjiang (os uigures) é “um crime contra a humanidade” e faz parte de um “ataque mundial aos direitos humanos”. Também os habitantes do Tibete são vítimas de uma feroz repressão das autoridades chinesas.

Vimos o que se passou e passa em Hong Kong, onde Xi Jinping violou o compromisso firmado com o Reino Unido, antiga potência colonizadora, de manter ali as liberdades democráticas até 2047. E multiplicam-se as provocações contra Taiwan, o último território onde se aplica o princípio “um país, dois sistemas”. Até quando?...

Os dirigentes chineses não acreditam em direitos humanos, que consideram uma invenção ocidental. Só que essa posição não é meramente teórica, pois se traduz em frontais agressões aos direitos humanos, dentro e fora da China.

Aumentam fortemente as despesas militares da China. Os países vizinhos estão cada vez mais preocupados com a agressividade chinesa no mar a sul e a leste do país, onde os chineses já criaram ilhas artificiais, que podem servir de bases militares.

Xi Xinping gostaria que Trump fosse reeleito, pois ele acabou por favorecer a China ao atacá-la no plano comercial. A China baixou as exportações, mas o seu enorme mercado interno compensou essa quebra. Se J. Biden ganhar a Casa Branca o conflito com a China não irá passar; apenas se espera que seja gerido, da parte de Washington, com mais sensatez.

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