eco.sapo.ptMónica Marques - 25 out. 16:44

Francisco e Artemisia

Francisco e Artemisia

Se há alguém a levar a história até um lugar interessante é este Papa, amigo de um Deus simpático, moderno, musical, encorajador do progresso e contra o obscurantismo das gerações.

Nunca fui o tipo de gay que procurava aprovação religiosa. Nunca liguei a isso. Talvez porque quando “saí do armário” os meus avós, a quem isso poderia importar e para quem eu sempre fui aquela menina incapaz de uma maldade, já cá não estavam. Sei que os meus pais conseguiram ultrapassar preconceitos e hoje são capazes de olhar para mim e para a Catarina, os meus filhos, o nosso cão e o nosso gato, como uma família. Sei também quem, de entre os meus amigos, tenha conseguido ver além do que a religião via e quem não tenha conseguido nada disto. Mas saúdo a declaração de Francisco porque finalmente, no século XXI, vem dar alento para que tantas outras pessoas possam amar a quem querem.

Se há alguém a levar a história até um lugar interessante é este Papa, amigo de um Deus simpático, moderno, musical, encorajador do progresso e contra o obscurantismo das gerações de jovens técnicos e políticos para quem Charles Dickens não passa de uma qualidade de maçãs.

E que saudades de viajar. Dou por mim no site da Ryanair a cogitar viagens a regiões obscuras da Europa por 9,99 euros, acometida de Covid-Claustrofobia, enquanto no Brasil levar ou não a futura vacina se tornou uma questão de ideologia e, na minha timeline, falam do “Zoom Dick Incident”, um dos escândalos mais estúpidos de 2020 e pelo qual um jornalista da New Yorker acaba de ser suspenso. Fuck Zoom and working from home e estar constantemente a ser julgado nas redes sociais ou, como diria a Hannah Arendt, “É no vazio do pensamento que se instala o mal”.

Como desgraças nunca vêm sós, Keith Jarrett, o pianista mais sexy do planeta, revelou que, em 2018 sofreu dois enfartes e que jamais voltará a abrir um piano.

Há muitos séculos, Artemisia Gentileschi foi uma incrível pintora barroca italiana que viveu entre Roma e Nápoles e pintou um quadro magnífico, “Judite Decapitando Holofernes”. A arte continua a ser a nossa melhor catarse. Ide admirar, hão de lá encontrar o espírito de César na alma dessa mulher facínora. O Papa Francisco? Deve adorar.

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