expresso.ptexpresso.pt - 11 ago. 14:25

Líder da Apple já é bilionário, mas não tem lugar entre os 500 mais ricos

Líder da Apple já é bilionário, mas não tem lugar entre os 500 mais ricos

Tim Cook lidera a empresa mais valiosa de todos os tempos, mas não figura entre os mais ricos do mundo

Tim Cook, o discreto sucessor de Steve Jobs à frente da Apple, acaba de garantir a entrada direta no clube dos bilionários. O presidente executivo da Apple alcançou esse feito depois da mais recente valorização das ações da Apple, que beneficiaram diretamente com a apresentação de resultados financeiros promissores e ainda das perspetivas otimistas que têm vindo a ser anunciadas para o sector das tecnologias.

Tim Cook detém atualmente 847.969 ações da Apple. A este ativo junta os honorários enquanto presidente executivo, que lhe valeram, no ano passado, a entrada de 125 milhões de dólares (quase 106 milhões de euros) na respetiva conta bancária.

O título de “billionaire” deriva diretamente do uso da escala curta na atribuição de nomes aos denominados “números grandes”. Nesta escala curta, um milhar de milhões equivale a um bilião (na escala longa, usada em Portugal, é necessário “um milhão de milhões” para se começar a usar o termo bilião).

Cook superou os mil milhões de dólares (cerca de 850 milhões de euros) – e se depender da Apple, não será de estranhar que continue a somar proventos. Apesar de não vender bens de primeira necessidade, combustível, energia ou medicamentos, a Apple está a um passo de se tornar a primeira empresa a superar a fronteira dos dois biliões de dólares (que na escala curta são descritos como dois triliões de dólares; o correspondente a 1,7 biliões de euros) de valorização bolsista.

Há dois anos, a “marca da maçã” já havia conseguido a proeza de se tornar a primeira a alcançar um valor bolsista de 1 bilião de dólares (850 mil milhões de dólares).

Apesar de liderar a empresa mais valorizada de todos os tempos, Tim Cook, curiosamente, não consta no ranking dos 500 mais ricos da Bloomberg – e não será propriamente por falta de representatividade das tecnologias que se justifica essa ausência. Jeff Bezos, o líder da Amazon, lidera este ranking com um total de 186 biliões de dólares (cerca de 157 mil milhões de euros). No segundo lugar, encontra-se Bill Gates, antigo fundador e líder da Microsoft que hoje se dedica à filantropia, com uma conta pessoal de 121 mil milhões de dólares (cerca de 102 mil milhões de euros). E o pódio fica completo com Mark Zuckerberg, líder e mentor da Facebook, com 99,7 mil milhões de dólares (cerca de 84,5 mil milhões de euros).

Coincidência ou apenas reflexo dos tempos, sete dos dez primeiros lugares do ranking da Bloomberg são ocupados por executivos de empresas tecnológicas: ao já referido do trio do pódio, há que juntar Steve Ballmer (o sucessor de Bill Gates na Microsoft, que também já saiu da gestão da empresa), os criadores da Google Larry Page e Sergey Brin, e ainda Elon Musk, líder da Tesla e da SpaceX, que se encontra atualmente no décimo lugar.

Neste top 10, há dois números que merecem destaque: Jeff Bezos e Elon Musk viram as respetivas fortunas pessoais aumentarem, respetivamente, 71,1 mil milhões e 39,7 mil milhões de dólares e lideram as valorizações face ao ano passado.

Pelo contrário, Tim Cook não é um fundador, apesar de não haver muitas dúvidas de que é o homem do leme da Apple. Nascido no Alabama, estado com fama de conservador, entra para a Apple no segundo consulado de Steve Jobs, que voltou à sala mais poderosa de Cupertino, em Silicon Valley, como última chance de salvação de uma Apple em vias de ser arrasada pelo sucesso da Microsoft, com os sistemas operativos Windows a conquistarem a preferência de consumidores e fabricantes de informática, face aos “Macs” da Apple, que exigiam (e ainda exigem) que os consumidores invistam na compra de um computador que tem de correr obrigatoriamente o sistema operativo que vem de origem.

Na viragem do milénio, quando todo o mundo andava a comprar computadores baratos para não perder o comboio da informatização, só alguém demasiado otimista poderia adivinhar que a Apple haveria de se alcandorar ao topo do mundo com os seus produtos premium – mas foi isso que mesmo aconteceu. E se Steve Jobs, qual salvador de um grupo de consumidores que destoava de todos os outros por funcionarem numa lógica de tribo, é o principal mentor da segunda ascensão da Apple, Tim Cook deve ser encarado como a personalidade "invisível" que complementava com a discrição o feitio irascível do principal fundador da produtora dos Macs.

Cook ingressa na Apple diretamente para a administração, corria o ano de 1998. Começou como vicepresidente responsável pelas operações globais da Apple. O cargo haveria de se revelar duplamente providencial para o destino do gestor e também da Apple: além dos cortes aplicados em fábricas de equipamentos e componentes com o objetivo de minimizar as perdas que a Apple ostentava na altura, o engenheiro industrial de formação teve de aprender todos os contornos do imbricado circuito da produção e da distribuição de tecnologias. E esse conhecimento haveria de se tornar valioso para os anos seguintes, quando a Apple precisou do poderio da indústria chinesa para se lançar no segmento dos telemóveis, com o primeiro iPhone, que ainda hoje é encarado como o primeiro dispositivo de ecrã tátil (ainda que haja marcas que disputem esse feito) que confirmou que é possível ter lucro com lojas de apps.

Se Steve Jobs foi um enfant terrible, que impunha respeito por não ser fácil de satisfazer e conseguir despedir um colaborador direto por um erro de somenos, Tim Cook, em contrapartida, contrabalançava os raides corporativos do grande líder da Apple com um trabalho de formiga, o conhecimento aprofundado de dossiês e uma aura de ponderação que nem sempre parece combinar com a pressa dos mercados bolsistas – mas que contribuiu decisivamente para a valorização que a empresa tem atualmente.

A fama de insucesso que costuma afetar os sucessores de grandes líderes não se aplica a Tim Cook. A passagem de testemunho, já com Steve Jobs visivelmente debilitado e com a circulação de impiedosos rumores que lhe apontavam semanas de vida, o número dois assume o leme da empresa, não desaproveitando o facto de os holofotes estarem centrados na desgraça do principal pioneiro da informática pessoal para dar início a uma arrumação da casa – e estabelecer as fundações do novo estilo de governação.

E não se confunda discrição com fragilidade: já com Donald Trump na presidência dos EUA, a Apple liderada por Tim Cook bateu o pé à senda securitária e recusou-se (alegando mesmo que seria tecnologicamente incapaz) a fornecer às autoridades policiais e serviços secretos uma “porta” de acesso às comunicações de iPhones e iPads. E hoje muitas polícias por esse mundo fora continuam a ter de solicitar os préstimos de terceiros para desbloquear dispositivos da Apple que se encontram sob investigação.

Antes disso, Cook deu ainda outro sinal de coragem: quando ninguém sequer ainda tinha aflorado a questão, assumiu a homossexualidade numa carta aberta. Não se sabe quantos mais gestores do ranking da Forbes, que agrega as 500 maiores empresas do mundo, terão as mesmas preferências sexuais, mas sabe-se que Cook foi o primeiro deste grupo de executivos a fazê-lo abertamente. Com resultados práticos evidentes: hoje, ninguém quer saber das preferências sexuais de Cook - e apenas o vê como um executivo. Que por sinal acaba de se tornar bilionário.

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