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Do alojamento às esplanadas: guia de cuidados para o verão covid-19

Do alojamento às esplanadas: guia de cuidados para o verão covid-19

Como partilhar o bom tempo com um vírus no horizonte? Este texto serve de manual de viagem para férias em pandemia

Caíram por terra as férias grandes em lugares exóticos, longe do ritmo da rotina. A pandemia obrigou a que o “fique em casa” perdurasse no tempo. Agora chegados à época de viajar, alargamos os metros quadrados de raio e o espectro de possibilidades e assumimos “ficar em casa” como não sair do país. António Costa aconselhou a gastar o dinheiro e o tempo cá dentro. Mas, com um vírus nas imediações, até onde os aventureiros podem sê-lo? É seguro viajar longas distâncias com amigos? Podemos visitar os avós que vivem longe? Devemos escolher hotéis ou alugar casas, ir a restaurantes ou fazer piqueniques? E a água do mar? Saberá o vírus nadar?

Os vírus não sobrevivem tanto ao sol

Há um ponto de partida a ter em conta: os vírus não estão na sua estação do ano predileta. “A radiação ultravioleta é muito eficaz a eliminá-los”, diz Carlos Lima Alves, infecciologista e diretor da Unidade de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos do Hospital de São João, no Porto. “Portanto, em espaços abertos e com luz solar a incidir, é menos provável que haja partículas víricas viáveis do que em espaços fechados.” Daí que se recomendem opções “que primem por ar livre, como montanha e praia, em detrimento de viagens feitas em autocarros de longo curso em contexto organizado, por exemplo”, assinala Firmino Machado, médico especializado em saúde pública do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Porto Ocidental. Na verdade, o verão traz várias vantagens à convivência com vírus: “O ar livre, a radiação solar, que diminui o risco de contágio a partir de partículas depositadas, e o distanciamento físico, que é mais fácil de se cumprir do que no inverno”, assevera Carlos Lima Alves.

Evitar transportes públicos (desculpa, ambiente)

Contrariando a visão de transporte mais sustentável, a verdade é que em tempos pandémicos “os transportes públicos acarretam mais risco”, reafirma o infecciologista do Hospital de São João. O aconselhável é andar a pé, de bicicleta e utilizar carro próprio sempre que possível, para maiores distâncias. No caso de viajar com pessoas fora do agregado familiar, como acontece no caso das boleias com amigos, aplica-se a norma dos transportes públicos: “usar sempre máscara”, frisa. O ar condicionado não é um problema, afirmam os especialistas. Só poderá sê-lo se ativarmos a função de recirculação do ar interior. Contudo, “dentro do carro, as pessoas devem dar primazia à ventilação natural, ou seja, ter os vidros abertos”, recomenda Firmino Machado. As viagens internacionais são desaconselhadas. Quem, ainda assim, sair do país deverá levar o cartão europeu de saúde atualizado, que será necessário “caso surjam sintomas compatíveis com covid-19 e tiver de se utilizar um serviço de saúde no estrangeiro”, sublinha o médico.

Ver os avós que vivem longe, mas de máscara

Já foi amplamente veiculado o facto de ser mais seguro passar férias apenas com o agregado familiar. E se não for o caso? A norma é usar máscara e manter a distância física para com pessoas pertencentes a grupos de risco, como os avós. O local ideal deve ser sempre o exterior, pela renovação contínua do ar. “Se vamos visitar os avós que vivem no interior, se calhar há a possibilidade de fazer o almoço de família lá fora”, exemplifica Firmino Machado.

Alugar casa em vez de optar por hotéis

Quando se fala em alojamento, a resposta dos especialistas é simples: desde que cumpra as normas da Direção-Geral da Saúde, o risco não é evidente. Mas se houver possibilidade de escolha, o médico de saúde pública considera que alugar casa permite, “à partida, uma estadia mais remota e isolada”. Além disso, o facto de dispor de cozinha “minimiza a necessidade de ir a restaurantes”. Caso queiramos férias com água, “há sempre a possibilidade de escolher uma casa com piscina”.

O vírus não sabe nadar

Não há indícios de transmissão por SARS-CoV-2 através da água. Mesmo que um infetado espirre para a água da piscina, “não há evidência de que os vírus, diluídos, possam ficar em quantidade suficiente para depois uma gota dessa água vir a dar uma infeção”, afiança Carlos Lima Alves. O perigo de “ir à água” é o mesmo de sempre: as multidões e “não conseguir cumprir o distanciamento físico”. É por isso que Firmino Machado recomenda a utilização da aplicação InfoPraias para saber se a lotação permite um banho de sol seguro.

E aquele petisco?Em esplanadas e sem ventoinhas

“Naturalmente nunca há risco zero”, mas o que está associado a fazer refeições em restaurantes é baixo, desde que cumpridas as recomendações de higienização e distanciamento das mesas. Para o infecciologista Carlos Lima Alves, pelo arejamento e pela radiação solar, as esplanadas acabam por ser uma melhor opção, tal como os piqueniques, desde que “à distância e sem partilhar o garfo, a colher ou a garrafa de água”. Firmino Machado completa: é importante “evitar filas, optando por reservas”, e ter “algum cuidado com as ventoinhas, porque elas provocam uma corrente de ar que pode contaminar em sequência várias mesas. Este é um aspeto normalmente ignorado, mas já provado em vários testes por investigadores chineses”. Embora esta doença se transmita não por via aérea mas através de gotículas, “uma deslocação de ar muito forte pode empurrá-las alguns metros”.

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