Opinião de Francisco Sarsfield Cabral - 8 jul. 07:31
Um reformista frustrado mas persistente
Um reformista frustrado mas persistente
Macron quer modernizar a França, com reformas que não são populares. Em governos e presidências anteriores houve tentativas reformistas – que foram derrotadas por manifestações de rua. A diferença de Macron em relação aos seus antecessores é que ele não desiste.
Macron, presidente da França, tem um novo governo. Num regime presidencialista, como é o francês, o chefe de Estado preside ao conselho de ministros. O primeiro-ministro é uma espécie de vice-presidente. Ora a principal novidade desta remodelação é que Édouard Philippe, primeiro-ministro de Macron desde o início do mandato deste como presidente, foi substituído por Jean Castex.
Castex é pouco conhecido em França. Trata-se de um alto funcionário, ao que parece muito eficaz, que orientou o desconfinamento em França; Castex é presidente da câmara da aldeia de Prades, nos Pirinéus – na “França profunda”.
E. Philippe ganhou as eleições autárquicas na sua circunscrição, tornando-se presidente da câmara do Havre com 59% dos votos. Surge nas sondagens acima de Macron, pelo que pode vir a candidatar-se nas próximas eleições presidenciais francesas.
As recentes eleições autárquicas correram mal ao partido que Macron fundou; nenhuma cidade francesa importante foi ganha por esse partido. Em maio, o partido de Macron tinha perdido a maioria – que inicialmente era enorme – na Assembleia Nacional francesa.
Aliás, estas eleições autárquicas foram mais um revés para Macron, que tem vindo a perder apoiantes. Ele é, em parte, responsável pela perda da sua popularidade porque, sobretudo nos primeiros tempos da sua presidência, assumiu frequentemente um tom altivo e arrogante, que desagradou aos franceses.
Mas o essencial é que Macron quer modernizar a França e, para isso, fazer reformas que não são populares. Em governos e presidências anteriores houve tentativas reformistas – que foram sistematicamente derrotadas por manifestações de rua. A diferença de Macron em relação aos seus antecessores é que ele não desiste.
Até conseguiu algumas mudanças no mercado de trabalho. Mas a inorgânica e longa revolta dos “camisas amarelas”, que a partir de 2018 regularmente, aos sábados, punha Paris e outras cidades em pé de guerra (em parte por causa de infiltrados extremistas), não levou Macron a demitir-se nem a recuar significativamente nas reformas que pretende concretizar. Eis o que é uma novidade em França.