www.publico.ptpublico@publico.pt - 8 jul. 11:00

A mais velha aliança?

A mais velha aliança?

Além do agravamento da situação sanitária para lá do que seria esperado, somos reféns da projeção mediática internacional do milagre português na fase do confinamento.

Da guerra surda no setor do turismo com a covid-19, passámos à fase audível e selvática a nível global. Isso é visível e era expectável que assim fosse. A decisão do Reino Unido para que Portugal fique fora do seu corredor aéreo, não pode deixar de ser olhada sob este prisma e o facto do governo português não a ter acautelado é grave pela aparente distração em tempos de algum cinismo hipócrita na política externa. Sobretudo, fora do espaço da União Europeia. Get used to it. Mas também não faltaram avisos naquilo que foi ameaçado e transmitido por outros países.

Ao observar alguns dos critérios mais rocambolescos nestas linhas vermelhas dos governos do Reino Unido e sem a justificação pública nas diferenças entre uns de um lado e nós de outro, Portugal fica num cheque económico ainda mais acentuado a curto prazo. E é aqui que começa a ingenuidade de quem nos governa. Destacámo-nos e procurámos realçá-lo de forma constante entre portas, mas sobretudo, fora de portas. Mesmo que em surdina, éramos vistos como um dos poucos destinos atrativos para uma fase posterior: clean, safe, cheap, miraculously covid free and sunny. Enquanto o governo tratava de propagandear-nos, a economia mundial e o turismo estavam em pause forçado, e praticamente todos os outros países europeus viviam sem esta aura simpática da opinião pública internacional para toda uma segunda fase da pandemia. Muito pelo contrário e Boris Johnson que o diga.

Só os ingénuos não anteviam que os 862 quilómetros do país de norte a sul, fora os Açores e a Madeira, não seriam um alvo fácil e útil para descredibilizar à menor oportunidade. Existe um retorno económico que pela nossa dimensão, não conseguimos retribuir ao nível de outros países e isso também pesa. Naturalmente.

Até que os muitos deslizes nesta fase de desconfinamento fizeram o resto. A preocupação justificada do lado cá é hoje extrapolada e passa como temor para fora e os números são amplificados e utilizados da forma que mais convém. Seja como for, Portugal tem a possibilidade de convencer o governo britânico a reverter esta decisão que já nos deixa uma mossa reputacional. A diplomacia portuguesa que de certa forma, falhou ontem, será agora colocada à prova de forma mais pressionada e num curto espaço de tempo.

Mas não nos enganemos: se este contexto se mantiver depois disso e ao longo das próximas semanas, a mais velha passa a caducada aliança e a cooperação entre Portugal e o Reino Unido fica comprometida. É que é nestas alturas difíceis que as alianças que mais importam se elevam e a facada que nos deram desmerecem-nas. Por aí, só por aí e se o esforço diplomático cair por terra, fará sentido expor para fora as verdadeiras razões por detrás desta decisão do governo do Reino Unido. Sem reservas. E não a fraude que escondem os critérios anunciados e que como se diz em bom português, é para inglês ver e britânico esquecer. Assim esperamos por um lado e confirmamos por outro.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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