eco.sapo.pteco.sapo.pt - 6 jul. 06:44

Aviões voltam ao céu com a promessa de serem neutros até 2050. Taxa sobre combustíveis seria “sacrificar” o setor

Aviões voltam ao céu com a promessa de serem neutros até 2050. Taxa sobre combustíveis seria “sacrificar” o setor

José Neves, presidente do Conselho de Administração da AED Cluster Portugal, diz que impor uma taxa sobre o combustível seria "estar a sacrificar as empresas" por causa da sua pegada ecológica.

Até à pandemia de Covid-19, antes do novo coronavírus ter obrigado milhões de aviões em todo o mundo a ficarem estacionados no solo, a aviação representava 2% das emissões poluentes em todo o mundo. A poluição associada ao setor estava a crescer a um ritmo de entre 4,5% e 6% ao ano. “Começou a ser crítico reduzir o impacto da aviação ao nível climático”, reconhece José Neves, presidente do Conselho de Administração da AED Cluster Portugal (Aeronáutica, Espaço e Defesa).

Pelos números internacionais a que tem acesso, em 2018 foram transportados 4,4 mil milhões de passageiros em todo o mundo e foram também gastos 9 mil milhões em Investigação e Desenvolvimento na aviação civil, a nível europeu. “Hoje polui-se menos por passageiro, mas há muito mais passageiros do que no passado. O objetivo da aviação é tornar-se neutra em 2050. É um grande desafio, mas já foi assumido por muitas empresa do setor aeronáutico. O presidente da Airbus já disse que esta é claramente uma das prioridades da empresa: travar a pegada carbónica da aviação”, avançou o responsável em declarações ao ECO/Capital Verde.

Os aviões hoje são mais limpos do que no passado, mas há muitos mais a circular. Estamos já o olhar para aviões elétricos, mas os novos combustíveis menos poluentes também pode ser uma boa solução.

José Neves

Presidente do Conselho de Administração da AED Cluster Portugal

José Neves garante que transformar esta ambição vai exigir muitos desenvolvimentos e avanços tecnológicos. Desde aviões mais pequenos e leves, com motores híbridos ou 100% elétricos, para curtas distâncias, até aviões a hidrogénio ou, numa primeira fase, combustíveis iguais aos de hoje mas com menos teor de carbono. “Tem de ser um mix de soluções para descarbonizar a aviação. Os aviões hoje são mais limpos do que no passado, mas há muitos mais a circular. Estamos já o olhar para aviões elétricos, mas os novos combustíveis menos poluentes também pode ser uma boa solução. Não devemos descartar nenhuma tecnologia. São pequenos passos para uma revolução que vai acontecer no setor. Em 2030 já não vamos estar a falar de emissões como hoje”, antecipa.

Sobre o hidrogénio para a aviação, em particular, o presidente do Conselho de Administração da AED Cluster Portugal garante que os primeiros demonstradores poderão estar a voar em 2028 e a tecnologia operacional em 2035, com um impacto de menos 50% a 90% das emissões poluentes. Grandes fabricantes como a Airbus e a Boeing serão chamadas a agir, mas o resto da cadeia de abastecimento também, diz José Neves.

E porque o setor da aviação já está a olhar para a questão ambiental com muita preocupação, considera que impor uma nova taxa sobre o combustível usado nos aviões, num momento em que as companhias aéreas estão numa situação tão grave, porque perderam passageiros de um dia para o outro, seria “estar a sacrificar as empresas” por causa da sua pegada ecológica.

“Não concordo [com a nova taxa] porque isso não resolve o problema. O setor está a fazer esse esforço e a organizar-se. Até porque os jovens, que são os passageiros do futuro, não querem viajar de avião por causa da poluição. Serão as empresas a ter de comprar aviões menos poluentes e os governos têm de as incentivar. A TAP já deu esse passo com os A330 neo e A320 neo, que consomem menos 10% a 15% de combustível”, remata o responsável, que não esconde a esperança de ver os corredores aéreos europeus e internacionais a serem abertos gradualmente daqui para a frente.

TAP vai regressar à “normalidade”, com voos regulares

No contexto da crise económica causada pela pandemia de Covid-19, a Associação Portuguesa para o Cluster das Indústrias Aeronáutica, Espaço e Defesa apresentou recentemente um documento com medidas para a mitigação dos impactos nos respetivos setores, que foi entregue aos membros do Governo com as tutelas da Economia, Defesa, Administração Interna, Educação, Ciência e Tecnologia e Infraestruturas, bem como a vários departamentos públicos, como o IAPMEI, AICEP, a IDD ou a ANI. José Neves garante que o documento foi bem recebido e que a associação está encarregue de o transformar numa visão europeia, a tempo da presidência portuguesa da UE que se avizinha.

Uma das propostas passa pela participação de Portugal no futuro CleanSky3 (Clean Aviation), através de um maior envolvimento de stakeholders nacionais, dinamizando financiamentos para o efeito. “Pretendemos presentar medidas que vão ter um impacto estratégico para as empresas, ao mesmo tempo que tornam Portugal um país mais competitivo para o investimento externo. Sendo um país muito atrativo, em especial no setor aeronáutico — prova disso são os vários investimentos significativos que foram feitos nos últimos anos no setor –, acreditamos que estamos no caminho certo para uma possível recuperação estável, se adotarmos todas as medidas para que tal aconteça”, diz José Neves.

Em Portugal estas três indústrias representam um volume de faturação agregado superior a 1,7 mil milhões de euros, com valores de exportação de cerca de 90%. Com o impacto da Covid-19 preveem uma diminuição de 55% das receitas de passageiros das transportadoras em 2020 relativamente a 2019 (menos 314 mil milhões de dólares) e ainda uma diminuição de 48% do tráfego anual de 2020.

Sobre a TAP, o responsável está otimista e acredita num regresso à normalidade, com a empresa a caminhar para uma retoma gradual das atividade, com voos regulares para algumas rotas.

“O surto de Covid-19 afetou todos os setores da AED, tendo sido a indústria aeronáutica civil a mais atingida, originando cortes nas encomendas, problemas de abastecimento, paragens na produção e problemas de tesouraria. Relativamente às indústrias da Defesa e Espaço, estas são maioritariamente direcionadas para o setor público pelo que ainda não enfrentam os mesmos impactos da indústria Aeronáutica, no entanto, o impacto indireto não tardará a fazer-se sentir. Por estas razões, a AEDCP decidiu agir e avaliar o que pode ser feito para diminuir as implicações desta nova crise”, defende o responsável.

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