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Menos exames e mais tempo para estudar. Como vêem os alunos do secundário as mudanças nos exames nacionais

Menos exames e mais tempo para estudar. Como vêem os alunos do secundário as mudanças nos exames nacionais

Os exames nacionais arrancam esta segunda-feira de forma atípica. Desde a calendarização mais tardia às alterações no cálculo da média interna, os efeitos da pandemia fazem-se sentir nos estudantes de Norte a Sul do país.

Esta segunda-feira, 6 de Julho, começa a primeira fase dos exames nacionais. Este ano, um pouco mais tarde do que o habitual devido à pandemia de covid-19, e também com novos moldes. A primeira avaliação é a disciplina de Português, o exame que Guilherme escolheu fazer.

“Acabei por escolher só Português porque sinto que não tenho bases nenhumas de História” revelou Guilherme Ribeiro ao PÚBLICO. O aluno do 12º ano de Línguas e Humanidades da Escola Secundária Daniel Sampaio, em Almada, está indeciso no curso que quer seguir no ensino superior, Gestão Turística ou Marketing Digital, mas sabe que pode contar com Português e ainda tem os exames realizados no ano anterior. 

A pandemia trouxe várias mudanças no sistema de ensino. Este ano os alunos fazem apenas exames que contam como provas de ingresso, as que se destinam apenas para aprovação da disciplina ou conclusão do ensino secundário ficam sem efeito. Esta medida é apoiada pelo professor de Físico-Química no Agrupamento de Escolas João da Silva Correia, em São João da Madeira. “Na minha opinião, é mais benéfico, não cria tanta pressão nos alunos” disse em entrevista ao PÚBLICO. 

Tal como Guilherme, também Inês e Sara escolheram fazer apenas um exame. Sara Conde é aluna do 11º ano de Línguas e Humanidades no Colégio Maristas de Carcavelos, em Cascais. Embora algo “assustada” — visto serem os seus primeiros exames nacionais mais “sérios” — olhou para esta medida com algum alívio, pois era obrigada a fazer exame a Geografia, disciplina em que não se sente tão à vontade e, assim, pode apenas escolher o de MACS (Matemática Aplicada às Ciências Sociais). De qualquer modo, é o exame que interessa: “Estou indecisa no que quero seguir [no ensino superior] mas MACS é sempre preciso [como prova de ingresso], se não der tenho sempre Português ou História para o ano.” 

Além disso, Sara confessou ao PÚBLICO estar com “mais expectativas” devido “às novas regras do exame, em que contam as melhores [perguntas]”. “Sinto-me mais aliviada, mas não vou deixar de estudar por causa disso.” Os novos critérios foram divulgadas no final de Maio pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave) e explicavam que só vão contar para a classificação final, além das perguntas de resposta obrigatória, os itens em que os alunos tenham “melhor pontuação”.

Inês Costa Pereira, do 12º ano de Ciências Socioeconómicas da Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, vai realizar apenas o exame de Matemática A. “Eu quero tirar a licenciatura em Gestão e para a faculdade que eu quero, NOVA SBE, eles só pedem Matemática”, explicou.

Ainda assim, há quem prefira jogar pelo seguro, como é o caso de José Miguel Cunha, aluno de 11º ano de Ciências Socioeconómicas na Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto. A incerteza face ao futuro fez com que se inscrevesse em duas provas este ano: “Vou fazer exames a História B e a Economia porque ainda não sei o que seguir na faculdade. Estou indeciso entre Direito ou Gestão”. 

A nova medida que dita a conclusão do secundário apenas com recurso à média interna é alvo de críticas por parte do estudante de 17 anos, que vê a situação como uma norma “injusta”. “Como os exames deixam de contar para a média interna, dá mais margem aos colégios e escolas privadas para as notas saírem inflacionadas”, assumiu.

Também Mariana Gomes, estudante do 12º ano de Ciências e Tecnologias da Escola Secundária D.Sancho I, em Vila Nova de Famalicão, escolheu fazer mais do que um exame e, inclusive, vai fazer melhorias. Não está preocupada com a média interna — que disse estar perto de 20 — mas sim com as provas de ingresso, visto querer seguir Medicina. Assim, vai realizar três exames: Matemática A, Biologia e Geologia e Físico-Química. No entanto, confessou ao PÚBLICO que ficar sem o “exame [de Português] já foi uma ajuda”.

As alterações no cálculo das médias internas traduziram-se numa redução no número de inscritos nos exames nacionais. Joana Cunha optou por não os fazer este ano. A aluna do 11º ano de Línguas e Humanidades no Externato Ribadouro, no Porto, já tem as ideias cimentadas: “Eu quero ir para Direito e as faculdades que tenho em mente só pedem exame de História ou Português, que são os que vou fazer para o ano. Achei que não valia a pena fazer exame agora”, justificou.

Fechados em casa, a preparação faz-se online

A pandemia de covid-19 deixou-os fechados em casa, no entanto, há algo de positivo que Guilherme retira da situação: “nós tivemos três meses para estudar”. Contudo, admitiu que “só estou a estudar mais agora”.

Inês não estava habituada a estudar para as provas finais em casa. O ano passado ia com o seu grupo de amigos estudar em grupo para “faculdades, bibliotecas ou jardins” e sente falta disso. Porém, admitiu que não era tão produtivo quanto o actual molde: “Se este ano fosse normal não sei se fazia a mesma coisa.”

Nos últimos dias Guilherme tem acordado cedo para iniciar o estudo, para se habituar à nova hora, já que com a quarentena deitava-se e acordava tarde. Mariana e Inês também se levantam cedo para a sua rotina de estudo. Ambas fazem exercício, para além de estudarem, mas são os exames que lhe roubam a maior parte do tempo. Mariana disse estar a fazer “malabarismo” entre as três disciplinas, enquanto Inês tenta equilibrar o estudo com o seu passatempo (criação de conteúdo). 

Inês faz vídeos para o YouTube e outras redes sociais, mas declarou que “a escola é a prioridade”. Assim, adapta o respectivo conteúdo à época que vive, o que para ela não é um problema uma vez que “as pessoas gostam muito de ver study vlogs”.

Apesar dos altos e baixos que a pandemia e as novas regras para os exames trouxeram, numa coisa todos concordam: as aulas presenciais são melhores para tirar dúvidas e para manter a atenção. “Eu sinto que as aulas presenciais são muito mais rentáveis na medida em que o foco é a 100%” disse Mariana, acrescentando que este sistema “deixa os alunos desamparados” a terem que fazer tudo sozinhos. Também Guilherme relembrou que, nas aulas online, os professores não tinham controlo sobre o que se fazia atrás do computador, havendo por isso mais distracções. 

Rui Sá concorda com os alunos. Marcou aulas online, tal como muitos dos seus colegas, para ajudar os alunos a prepararem-se para o exame. Contudo, para o professor, o factor chave é a “concentração”. “Ambas as situações servem para preparar o aluno”, porém, “a grande diferença é a concentração. Presencialmente conseguimos ver o foco de distracção e conseguimos actuar logo. O online tem essa desvantagem”.

Joana Cunha acredita que as alterações nos exames nacionais vieram colmatar a desvantagem do online: “Isto veio facilitar muito porque as aulas online são complicadas, não se apanha tão facilmente a matéria.” Ainda assim, reconhece que houve um esforço por parte da escola e dos docentes dentro desta “situação complicada”. “A escola diminuiu o tempo das aulas, o que fez com que fossemos mais produtivos e os professores, principalmente os mais novos, adaptaram-se muito bem”, explicou.

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Para Rui Sá, será difícil comparar a forma como os alunos ficaram preparados este ano lectivo face a anos anteriores. Devido aos diferentes moldes em que os exames estão a ser realizados — novas datas, novos critérios e a incerteza que a pandemia trouxe consigo — “não há factor de comparação”. 

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